– Após 32 anos usando métodos convencionais, o agricultor Ediçon Machado teve coragem para mudar, e, quatro anos depois, é premiado pela qualidade da sua produção com práticas agroecológicas. “Descartei os agroquímicos e estou feliz com os novos métodos produtivos. Mais saúde, mais lucro e proteção ambiental”, afirma –
DA REDAÇÃO I Cultura&Realidade, por João Gonçalves
O agricultor e pecuarista agroecológico Ediçon Machado, de Presidente Dutra, é um dos três baianos selecionados para receber o Prêmio Banco do Nordeste Agronordeste/2021, em solenidade que ocorrerá nesta quinta-feira, 24, às 10h da manhã, on line, na sede da empresa em Fortaleza (CE) com a presença da ministra da agricultura, Tereza Cristina e presenciais nas sedes das suas superintendências estaduais, no caso da Bahia, em Salvador. O ato será transmitido pelo canal Banco do Nordeste, no Youtube.
De acordo com informação da instituição, o objetivo da iniciativa é valorizar e reconhecer os empreendimentos de sucesso, que se destacaram nas atividades prioritárias dos territórios do AgroNordeste, dentre os clientes financiados pelo banco, por meio do FNE – Fundo de Desenvolvimento do Nordeste.
CORAGEM PARA MUDAR
Por meio de entrevista concedida com exclusividade, ao site Cultura&Realidade, Ediçon afirma que uma das razões que o levou ao prémio, foi a sua coragem para mudar. Há 36 anos como produtor rural, ele iniciou suas atividades quando resolveu abandonar o emprego público no Distrito Federal, em Brasília, retornando às suas origens, ainda com as práticas convencionais. Eis a primeira grande mudança. A coragem para retornar.
“A saudade, a paixão pelas coisas do campo me empurraram de volta para o meu lugar. Gosto de trabalhar na lavoura, adoro os bichos, as plantas, a natureza”, justifica ele, o abandono à suposta zona de conforto de um emprego público com salário certo.
Ainda na retomada das suas atividades, Ediçon teve que reaprender muitas práticas do campo. Ele diz que iniciou com as culturas tradicionais, milho, feijão e mamona e depois implementou a cultura de pinha irrigada. Passados alguns anos, acrescentou na propriedade a criação de pequenos animais, caprinos, ovinos e suínos. “A monocultura não é favorável, temos de ousar em ter um conjunto de atividades para garantir melhor desempenho da propriedade”, explica.
MUDANÇA RADICAL
Ediçon conta que durante todo este tempo observou as mudanças climáticas e o comportamento da natureza na região, com o aumento do uso intensivo de máquinas e implementos agrícolas, seguido do uso de adubos químicos e veneno como defensivos agroquímicos para tentar correção de solos, buscando salvar as lavouras de pragas e garantir produtividade.
“Estas práticas não foram satisfatórias para o nosso ambiente. Prejudicaram nossos solos, nossas águas e a atmosfera, que se encontram comprometidos, e o que também é muito grave, deixando nossas atividades mais caras, menos lucrativas e totalmente reféns das tecnologias de laboratório, das lojas que comercializam insumos caríssimos, sendo eles quem mais lucram com as nossas atividades, sem riscos eminentes para os seus empreendimentos, uma vez que todos os riscos ambientai, pessoal e financeiro são diretos e totalmente do produtor”, atesta Ediçon.
Após diversas experiências, ele resolveu pesquisar e implementar novas práticas em sua propriedade de 11 hectares. Eis a segunda grande mudança. “Desisti do sistema convencional, mudei para o agroecológico e estou feliz com os resultados. Estou mais saudável, minha propriedade oferece melhor qualidade ambiental, comercializamos alimentos saudáveis, sem uso de veneno, nem adubos químicos”, garante o premiado agricultor.
Ele transformou sua propriedade em uma área com amplo consórcio de culturas irrigadas e em regime de sequeiro. “Aqui nós temos agroflorestal e plantamos andu, milho, mamona, gliricídia, palma, pinha, tomate em estufa e o novo xodó da propriedade, a pitaia. Das 100 espécies de pitaia existentes no mundo, temos 80 em nossa propriedade”, afirma Ediçon, que também cuida de um rebanho escolhido a dedo de caprinos e ovinos para produção de leite e carne.

LUCRATIVIDADE
No momento de fazer contas, ele disse que está satisfeito. “As mudanças ocorridas em nosso espaço, nos últimos quatro anos, foram bastante favoráveis. Reduzimos os riscos, ampliamos a segurança alimentar e financeira e nossos solos estão mais qualificados”, disse o produtor.
Segundo Ediçon, ao contrário do que dizem, a agroecologia é sim capaz de produzir alimentos para abastecer todo o planeta. “Este discurso de que o sistema agroecológico não é capaz de produzir com qualidade e em quantidade para atender a demanda da população em todo o mundo, é falácia de vendedor de veneno. Nossos produtos tem qualidade comercial, boa produtividade e totalmente isentos de agroquímicos. O que precisamos é ter assegurada qualidade da assistência técnica dos manejos culturais e evitar o desperdício”, conclui.





