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A sociedade canina de classes

REDATOR by REDATOR
28 de dezembro de 2020
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Alan Oliveira Machado

O vira-lata como mais carente e sofrido membro da espécie

Outro dia, perambulando pelo centro da cidade, vi uma senhora com um cachorro no colo. O bichinho rosnou para mim. Com espanto, constatei que ele tinha um aparelho nos dentes. Contei o fato para um amigo e ele só acreditou depois que fez uma busca no google e encontrou algumas dezenas de imagens confiáveis referentes à ortodontia veterinária. A partir desse encontro com o antipático cachorrinho de madame com aparelho na boca, passei a observar a vida dos cachorros e vi que eles também têm classe social. Então existem aqueles de alta classe que vão toda semana ao petshop tomar banho, fazer penteados e unhas, que usam roupas chiques, que têm professor de bons costumes e que quando adoecem vão ao médico e tomam remédios caros. Se preciso, usam aparelhos nos dentes, fazem dietas especiais ou cirurgias, tomam antidepressivos e tal. E se os donos desses bichos privilegiados precisam viajar a serviço, eles ficam em hotéis pet, motéis etc. Alguns preferem ficar em casa mesmo, com uma babá ao seu dispor. É uma vida altamente burguesa, mergulhada no melhor do consumo e do luxo.

Mas é possível identificar um segundo extrato canino de classe média que também tem vida boa. Os desse extrato vão de vez em quando ao petshop e ao médico, mas só quando estão muito sujos e doentes mesmo. Não vivem no colo dos donos e não saem muito de casa. São comumente repreendidos por comerem restos da cozinha humana, já que não falta em seus pratos a ração canina apropriada. Geralmente, ou início da manhã ou no fim da tarde, seus donos os levam uma vez à rua para fazerem as necessidades. Na cabeça desses donos é uma boa educação não fazer as necessidades em casa. O ideal é a via pública mesmo. Até porque é preciso mais respeito ao espaço privado.

O cachorro classe média é um habitante da casa, pouco mais que uma planta decorativa. Sua função é distrair os donos e as crianças. Nem precisa mesmo que tenham pedigree. Quando eles morrem não há muito choro ou luto pomposo. Não são cremados e voltam para casa numa urna luxuosa com sua foto e nome gravados, como acontece com os cães ricos, apenas são enterrados respeitosamente no fundo do quintal ou em um terreno baldio qualquer.

A vida desses fiéis amigos dos humanos parece ser muito boa e satisfatória até aí. Já para a terceira classe canina a coisa começa a ficar mais precária. Esses têm casa e comida, mas não vivem com luxo algum. Comem as sobras da casa, nunca vão a petshops ou clínicas médicas e raramente convivem no espaço interior do lugar onde moram. Seu habitar é a garagem, a varanda ou quintal e a rua. Sim, se existe algo de bom na vida desses cachorros pobres é a liberdade de ir e vir, é a possibilidade de participar da vadiagem da rua, rondando parques e praças, virando lixo e integrando bandos atrás de cadelas no cio ou sendo uma feliz e disputada cadela no cio. Quando são agredidos ou maltratados sabem o caminho de casa. Quando adoecem ficam ali pelos cantos até sararem por conta própria. Se morrem são indignamente arrastados até um terreno baldio e abandonados lá, expostos ao tempo.

No entanto, existe uma quarta classe canina desprovida de tudo. Não tem casa nem dono, nem alimento próprio. São os mais carentes e sofridos membros da espécie. Comumente são identificados como vira-latas de rua. A vida desses bichos é dura. Vagueiam pela cidade dia e noite. Comem o que encontram em lixeiras, dormem sob marquises, reproduzem em bueiros ou casas abandonadas. Padecem das doenças da miséria e da sujeira mundana. Embora sempre dóceis e dispostos ao afeto humano, carentes que são, recebem mais chutes e pedradas e rapas do que agrados. Se atropelados ficam lá padecendo até exaurir e depois incham e apodrecem no lugar onde caíram. O humano que o atropelou continua a passar pelo mesmo trajeto e só é tirado de sua indiferença pelo cheiro nauseante da decomposição. E às vezes até xinga o pobre canino que nem existe mais, principalmente quando se lembra dos arranhões que o atropelamento causou na lataria de seu carro.

Certa vez, passando pela avenida principal do centro da cidade, numa manhã chuvosa, vi um mendigo dormindo sob uma marquise abraçado a um vira-lata de rua desses. Estavam lá solidários, um esquentando o outro. Ocorreu-me pensar, diante da cena, que o problema de classe dos cachorros é, na verdade, o problema de classes sociais humanas. A vida dos cachorros é meio que uma réplica da vida de seus donos no que ela tem ou não de precariedade econômica e cultural.  E absurdamente o sistema que materializa essas condições econômicas e culturais produz também humanos de rua tanto quanto cachorros de rua. Se a existência de cachorros abandonados à própria sorte em vias urbanas, completamente desamparados pela sociedade, já é moralmente perversa imaginem a existência de humanos de rua. (2020)

Alan Oliveira Machado é professor, poeta, contista e cronista. Autor de PRA DIZER QUE FOI ASSIM (Ibicaraí: Via Litterarum, 2015)
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