• INÍCIO
segunda-feira, junho 30, 2025
  • Login
Cultura & Realidade
  • INÍCIO
  • IRECÊ
  • POLÍTICA
  • EDUCAÇÃO
  • SAÚDE
  • COLUNAS
No Result
View All Result
  • INÍCIO
  • IRECÊ
  • POLÍTICA
  • EDUCAÇÃO
  • SAÚDE
  • COLUNAS
No Result
View All Result
Cultura & Realidade
No Result
View All Result

A sociedade canina de classes

REDATOR by REDATOR
28 de dezembro de 2020
in ARTIGOS
0
Home ARTIGOS
Compartilhe no FacebookCompartilhe no Whatsapp
ADVERTISEMENT

Alan Oliveira Machado

O vira-lata como mais carente e sofrido membro da espécie

Outro dia, perambulando pelo centro da cidade, vi uma senhora com um cachorro no colo. O bichinho rosnou para mim. Com espanto, constatei que ele tinha um aparelho nos dentes. Contei o fato para um amigo e ele só acreditou depois que fez uma busca no google e encontrou algumas dezenas de imagens confiáveis referentes à ortodontia veterinária. A partir desse encontro com o antipático cachorrinho de madame com aparelho na boca, passei a observar a vida dos cachorros e vi que eles também têm classe social. Então existem aqueles de alta classe que vão toda semana ao petshop tomar banho, fazer penteados e unhas, que usam roupas chiques, que têm professor de bons costumes e que quando adoecem vão ao médico e tomam remédios caros. Se preciso, usam aparelhos nos dentes, fazem dietas especiais ou cirurgias, tomam antidepressivos e tal. E se os donos desses bichos privilegiados precisam viajar a serviço, eles ficam em hotéis pet, motéis etc. Alguns preferem ficar em casa mesmo, com uma babá ao seu dispor. É uma vida altamente burguesa, mergulhada no melhor do consumo e do luxo.

Mas é possível identificar um segundo extrato canino de classe média que também tem vida boa. Os desse extrato vão de vez em quando ao petshop e ao médico, mas só quando estão muito sujos e doentes mesmo. Não vivem no colo dos donos e não saem muito de casa. São comumente repreendidos por comerem restos da cozinha humana, já que não falta em seus pratos a ração canina apropriada. Geralmente, ou início da manhã ou no fim da tarde, seus donos os levam uma vez à rua para fazerem as necessidades. Na cabeça desses donos é uma boa educação não fazer as necessidades em casa. O ideal é a via pública mesmo. Até porque é preciso mais respeito ao espaço privado.

O cachorro classe média é um habitante da casa, pouco mais que uma planta decorativa. Sua função é distrair os donos e as crianças. Nem precisa mesmo que tenham pedigree. Quando eles morrem não há muito choro ou luto pomposo. Não são cremados e voltam para casa numa urna luxuosa com sua foto e nome gravados, como acontece com os cães ricos, apenas são enterrados respeitosamente no fundo do quintal ou em um terreno baldio qualquer.

A vida desses fiéis amigos dos humanos parece ser muito boa e satisfatória até aí. Já para a terceira classe canina a coisa começa a ficar mais precária. Esses têm casa e comida, mas não vivem com luxo algum. Comem as sobras da casa, nunca vão a petshops ou clínicas médicas e raramente convivem no espaço interior do lugar onde moram. Seu habitar é a garagem, a varanda ou quintal e a rua. Sim, se existe algo de bom na vida desses cachorros pobres é a liberdade de ir e vir, é a possibilidade de participar da vadiagem da rua, rondando parques e praças, virando lixo e integrando bandos atrás de cadelas no cio ou sendo uma feliz e disputada cadela no cio. Quando são agredidos ou maltratados sabem o caminho de casa. Quando adoecem ficam ali pelos cantos até sararem por conta própria. Se morrem são indignamente arrastados até um terreno baldio e abandonados lá, expostos ao tempo.

No entanto, existe uma quarta classe canina desprovida de tudo. Não tem casa nem dono, nem alimento próprio. São os mais carentes e sofridos membros da espécie. Comumente são identificados como vira-latas de rua. A vida desses bichos é dura. Vagueiam pela cidade dia e noite. Comem o que encontram em lixeiras, dormem sob marquises, reproduzem em bueiros ou casas abandonadas. Padecem das doenças da miséria e da sujeira mundana. Embora sempre dóceis e dispostos ao afeto humano, carentes que são, recebem mais chutes e pedradas e rapas do que agrados. Se atropelados ficam lá padecendo até exaurir e depois incham e apodrecem no lugar onde caíram. O humano que o atropelou continua a passar pelo mesmo trajeto e só é tirado de sua indiferença pelo cheiro nauseante da decomposição. E às vezes até xinga o pobre canino que nem existe mais, principalmente quando se lembra dos arranhões que o atropelamento causou na lataria de seu carro.

Certa vez, passando pela avenida principal do centro da cidade, numa manhã chuvosa, vi um mendigo dormindo sob uma marquise abraçado a um vira-lata de rua desses. Estavam lá solidários, um esquentando o outro. Ocorreu-me pensar, diante da cena, que o problema de classe dos cachorros é, na verdade, o problema de classes sociais humanas. A vida dos cachorros é meio que uma réplica da vida de seus donos no que ela tem ou não de precariedade econômica e cultural.  E absurdamente o sistema que materializa essas condições econômicas e culturais produz também humanos de rua tanto quanto cachorros de rua. Se a existência de cachorros abandonados à própria sorte em vias urbanas, completamente desamparados pela sociedade, já é moralmente perversa imaginem a existência de humanos de rua. (2020)

Alan Oliveira Machado é professor, poeta, contista e cronista. Autor de PRA DIZER QUE FOI ASSIM (Ibicaraí: Via Litterarum, 2015)
Previous Post

“Não será a última pandemia”, adverte OMS sobre covid-19

Next Post

Alagoinhas, Irecê e Seabra estão com 100% das vagas de UTI para adultos ocupadas

Next Post

Alagoinhas, Irecê e Seabra estão com 100% das vagas de UTI para adultos ocupadas

Deixe um comentário Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Ultimas notícias

São João de Irecê, tradição e inovação da melhor festa junina

São João de Irecê, tradição e inovação da melhor festa junina

25 de junho de 2025
Em mais uma noite de sucesso de artistas da cidade e grandes atrações

Em mais uma noite de sucesso de artistas da cidade e grandes atrações

21 de junho de 2025
Músicos de Irecê e João Gomes, marcam o segundo dia de festa em Irecê

Músicos de Irecê e João Gomes, marcam o segundo dia de festa em Irecê

20 de junho de 2025
Show marcante de Simone Mendes, no melhor Sanju

Show marcante de Simone Mendes, no melhor Sanju

19 de junho de 2025
Encontro de gestores em educação reflete políticas de alfabetização

Encontro de gestores em educação reflete políticas de alfabetização

18 de junho de 2025
Morte de João da Cruz repercute em toda a Bahia

Morte de João da Cruz repercute em toda a Bahia

18 de junho de 2025

Urgente

STF frustra professores, que esperavam receber 60% dos precatórios Fundef

24 de março de 2022

Tem criminosos aplicando o golpe do emprego com a marca do Sebrae

21 de março de 2022

Elmo Vaz e Luizinho deverão disputar as eleições deste ano

6 de março de 2022

Acidente mata mãe e filha entre Lapão e Irecê

7 de fevereiro de 2022

S. Francisco: comunidades ribeirinhas podem ser submersas

14 de janeiro de 2022

Polêmica em Central: prefeito é cassado e vice toma posse

13 de janeiro de 2022
Cultura & Realidade

Copyright © 2025, Jornal Cultura & Realidade

Navegação

  • Política de privacidade
  • Termos de uso
  • Fale Conosco

Siga-nos

Welcome Back!

Login to your account below

Forgotten Password?

Retrieve your password

Please enter your username or email address to reset your password.

Log In
No Result
View All Result
  • INÍCIO
  • IRECÊ
  • POLÍTICA
  • EDUCAÇÃO
  • SAÚDE
  • COLUNAS

Copyright © 2025, Jornal Cultura & Realidade