ARTIGO I Cultura&Realidade/Reprodução UOL
Por NOAH Scheffel*
Pela primeira vez o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou levantamento demográfico de pessoas do recorte LGBTQIAP+. E o problema já começa aqui: dentro desta sigla existem diversas questões relacionadas à orientação sexual, afetiva e de identidade de gênero que podem, inclusive, se somar em uma mesma pessoa. Porém, os dados divulgados, que foram levantados em 2019, consideraram apenas as três primeiras letras da sigla, que correspondem a pessoas lésbicas, gays e bissexuais. Todas ligadas à diversidade de orientação sexual e afetiva, em um processo contínuo de apagamento da diversidade de identidade de gênero, invalidando a existência de pessoas trans enquanto seres humanos.
Além disso, os dados resultados deste levantamento disseram que 2,9 milhões de pessoas maiores de 18 anos se declararam LGB’s (lésbicas, gays, bissexuais), em um país onde movimentos sociais e organizações sem fins lucrativos que vivem para a pauta diariamente contrapõe a estimativa, identificando com diferentes dados que o IBGE subnotificou tais existências. Segundo estes dados do IBGE, essas pessoas correspondem a apenas 1,9% da totalidade populacional no Brasil.
Para você ter uma ideia, uma pesquisa da ABGLT (Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Travestis e Transexuais) publicou oficialmente no Senado uma estimativa de identificação de 18 milhões de pessoas no Brasil que fazem parte da comunidade. A ANTRA (Associação Nacional de Travestis e Transexuais), que trabalha com o recorte da sigla que foi deixado de fora deste levantamento do IBGE, estima que a população trans no Brasil é de 2%, ainda declarando que os dados devem ser maiores que este.
O IBGE se pronunciou se “isentando” da subnotificação, dizendo que o levantamento corresponde às pessoas que assim se autodeclararam, e não que eles estão afirmando que existem somente estas. O que pouco muda, haja vista que se a intenção fosse boa, a atitude correta ao entender uma subnotificação desta magnitude seria a de não divulgar dado tão absurdo, e sim assumir que o Estado não foi capaz de fazer uma estimativa que beirasse a realidade da nossa sociedade. Esse levantamento vem com a tentativa de frear nossos avanços, reduzir nossos impulsos, diminuir nossa força, para aos poucos retirar aquilo que temos conquistado em comunidade.
Mas não irão. No mês do Orgulho LGBTQIAP+ chegando, no país com a maior parada do mundo com 5 milhões de pessoas participantes, não deixaremos que uma migalha seja usada para dizer quantos, ou quem, nós somos. Não deixaremos que digam que não existimos, nos colocando de fora de algo que nem sequer nos representa em nossa integralidade.
Somos muito mais que 1,9% da população brasileira, e não seremos aniquilados enquanto em vida.
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