O Desejo dos Outros
Primeiramente, esse título trata-se de um clickbait. Obviamente não existem crianças ou adolescentes prostitutas, ou “trabalhadoras sexuais”. Existem crianças escravas sexuais, exploradas e violentadas. O termo prostituição faz parecer que há uma escolha, mas que escolha tem uma menina que nasceu em um bordel ?
Pois é, em Bangladesh a prostituição dentro de bordéis registrados é legal. Nós vamos ao bordel Kandapara no distrito de Tangail, que existe há cerca de 200 anos é o mais antigo e o segundo maior do país. Este chegou a ser demolido em 2014, mas acabou sendo reconstruído, pois as mulheres, muitas nascidas e criadas lá, não sabiam mais para onde ir. Sem a mínima condição de sobreviver fora daquela realidade, buscaram apoio para a sua reconstrução, já que a simples destruição sem haver nenhuma política de proteção e apoio a elas, só agravava o problema.
O projeto The Longings of the Others (2016), da fotógrafa alemã Sandra Hoyn, traz imagens muito fortes da realidade vivida por essas meninas e mulheres. Ela explica:
Hoje, o “distrito do bordel” da área é cercado por um muro. Nas ruas estreitas, há barracas de comida, casas de chá e vendedores ambulantes. O bordel é um lugar com suas próprias regras e hierarquias de poder que são completamente diferentes da sociedade em geral. Por exemplo, dentro dos bordéis, as mulheres são fracas, mas também poderosas. O estágio mais vulnerável é quando as jovens entram no bordel. Muitos vêm de famílias pobres ou se casaram quando crianças e fugiram dos maridos. Pertencem a uma senhora, têm dívidas e não podem sair ou ficar com o dinheiro. Depois de pagarem todas as suas dívidas, tornam-se trabalhadoras sexuais independentes. Então, eles podem recusar clientes e ficar com seu próprio dinheiro. A partir do momento em que uma mulher paga suas dívidas, ela está livre para deixar o bordel. Mas essas mulheres são estigmatizadas socialmente fora de suas “casas” e, portanto, muitas vezes optam por ficar e continuar sustentando suas famílias com seus ganhos.
Esse projeto fotográfico é muito forte. Mostra uma realidade cruel para meninas e mulheres ao redor do mundo, que pelo simples fato de terem nascido com uma vagina, são subalternizadas pela sociedades que colocam o homem como um ser superior. É uma realidade muito triste que fica muito latente em países pobres e evidente onde é legalizado. Porém não precisamos sair do Brasil, para ver realidades igualmente perturbadoras.
Você pode encontrar outros projetos fotográficos no Instagram da Sandra Hoyn.