– Os crescentes casos de violência contra a mulher, marcado no último dia 29 de maio com o assassinado de Ariana Marques da Silva, a facadas, dentro de casa, no povoado de Cocão II, no município de Irecê, motivaram a realização de uma passeata na manhã desta segunda-feira. –
DA REDAÇÃO I Cultura&Realidade
Familiares das vítimas da violência doméstica e militantes dos movimentos sociais por direitos humanos foram às ruas no centro de Irecê, protestar contra o aumento da violência contra as mulheres e reivindicar melhores condições de trabalho para as estruturas de políticas públicas de acolhimento às vítimas de violência doméstica e por melhores condições de trabalho dos setores que cuidam da investigação e prevenção.
Liderado pelo Coletivo Somos, que atua na defesa do fortalecimento das políticas públicas para mulheres e ocupação das mulheres nos espaços políticos, o movimento se concentrou na Praça do Feijão e percorreu pelas principais ruas da cidade, até à sede do NEAM – Núcleo Especial de Atendimento à Mulher, estrutura vinculada à 14ª Coordenação Territorial da Polícia do Interior, localizada na Praça CEL (Cultura, Esporte e Lazer).
O assassino de Ariana já está custodiado na cadeia provisória da Polícia Civil, após ter sido ouvido pela Delegada de Polícia Maria José, coordenadora do Neam. Ele confessou o crime, que teria sido motivado por ciúmes e uma suposta traição. Ele chegou a comunicar com a irmã da vítima as suspeitas e posteriormente o crime.
ESTRUTURA
Em Irecê tem dois órgãos de apoio à mulheres vítimas de violência. O Centro de Referência da Mulher – CRM e o NEAM. O CRM é uma estrutura implementada para atuar em regime de cooperação entre os municípios do Território de Irecê, em regime consorciado. Entretanto, segundo informações do Coletivo Somos, apenas três municípios concedem a sua contribuição. A ausência dos demais entes, fragilizam os serviços, que carecem de estrutura adequada, logística e equipe de profissionais à altura das demandas, ficando os objetivos da sua existência profundamente prejudicados.
O Neam dispõe de apenas dois agentes da polícia, a Delegada e uma assistente, o que é insuficiente para fazer frente aos casos que ocorrem quase que diariamente.
Os releases das policias Militar e Civil expõem que aproximadamente 10% das ocorrências policiais no Território de Irecê, são do âmbito de atuação da Lei Maria da Penha, ou seja, violência contra mulheres.
MANIFESTOS
Veja nos vídeos, alguns registros feito por Aulus Teixeira, para o site Cultura&Realidade, sobre a passeata desta segunda-feira, 6, com um resumo das falas dos familiares de Ariana e das líderes do movimento feminista de Irecê. Índia Caatingueira (Ipêterras) diz que se deve fortalecer as estruturas das politicas públicas conquistadas depois de muitas lutas e da necessidade do fortalecimento político das mulheres nos espaços de poder, visando ampliar as conquistas sociais de interesse protetivo e sociais das mulheres. A professora Clarissa Bastos (Coletivo Somos) ressalta a necessidade de estruturação do Neam e CRM, para que possam cumprir de fato com as missões para as quais foram criadas e instaladas em Irecê. Vilevaldo Batista, irmão de uma vítima que veio a óbito em situação ainda nebulosa e sem conclusão das investigações pela Policia Civil, pede esclarecimentos e justiça. “Não desejamos derramamento de sangue, apenas justiça”, diz.
2.451 FEMINICÍDIOS E MAIS DE 100 MIL ESTUPROS
Apenas entre março de 2020 e dezembro de 2021, último mês com dados disponíveis, foram 2.451 feminicídios e 100.398 casos de estupro e estupro de vulnerável de vítimas do gênero feminino, segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Estudos encomendados pelo Senado Federal brasileiro apontam que a maioria das mulheres brasileiras (86%) percebeu um aumento na violência cometida contra pessoas do sexo feminino durante o último ano. A conclusão é da pesquisa de opinião “Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher — 2021”, realizada pelo Instituto DataSenado, em parceria com o Observatório da Mulher contra a Violência. O estudo foi lançado em dezembro do ano passado, pelo Senado Federal, durante audiência pública na Comissão de Direitos Humanos.
A pesquisa é realizada a cada dois anos, desde 2005. A edição de 2021 revela um crescimento de 4% na percepção das mulheres sobre a violência em relação à edição anterior. O estudo ouviu 3 mil pessoas entre 14 outubro e 5 de novembro.
Para 71% das entrevistadas, o Brasil é um país muito machista. Segundo a pesquisa, 68% das brasileiras conhecem uma ou mais mulheres vítimas de violência doméstica ou familiar, enquanto 27% declaram já ter sofrido algum tipo de agressão por um homem.
De acordo com a pesquisa, 18% das mulheres agredidas por homens convivem com o agressor. Para 75% das entrevistadas, o medo leva a mulher a não denunciar. O estudo demonstra, no entanto, que 100% das vítimas agredidas por namorados e 79% das agredidas por maridos terminaram a relação.
Fonte: Agência Senado