– Uma reflexão para além da programação dos festejos juninos, resultante da tática da gestão pública entre os sentimentos identitários geracional –
EDITORAL I Cultura&Realidade
A evolução tecnológica, sem dúvida, promove mudanças comportamentais, novos símbolos de linguagens, práticas e identidades. Assim como edificações e equipamentos, hábitos vão sendo reinventados, produzindo novos traços socioculturais. Óbvio que a comunicação globalizada e célere e a grande capacidade inventiva dos sujeitos sociais têm responsabilidades cruciais no constructo dos fluxos, sejam em relação aos meios de produção, ou no campo das artes, a força dos processos vai moldando os costumes, com propósitos de dominação ou não, o certo é que isso ocorre ao longo dos tempos, geração pós geração. Basta observar os casarios dos centros históricos, muitos obsoletos e mesmo abandonados, bem como o modo das relações de vizinhança nas comunidades, à medida que estas vão crescendo, com fortes impactos na arquitetura e relações sociais e, sem dúvida as artes e a cultura do povo, também vão ganhando novos formatos.
A cidade de Irecê é um exemplo destas mudanças. As inovações não ocorrem apenas no âmbito da oferta dos métodos dos serviços da educação, de saúde, expansão imobiliária, ou da sua economia, onde tríade formada pelo comércio, prestação de serviços e eventos, formata o ‘turismo de negócios’ como principal base do PIB – Produto Interno Bruto do município. O seu principal evento atrai milhares de pessoas, de vários cantos do País. Os festejos juninos se tornaram um excepcional vetor de fortalecimento da economia, valendo a pena cada centavo investido, favorecendo as mais diferentes cadeias de produção e categorias de empreendedores.
E, inapelavelmente, o principal evento da cidade, acompanha a evolução dos tempos. Talvez seja um importante tema para os acadêmicos. Mas do trio fundamental do tradicionalíssimo e clássico forró pé de serra, tocado na “casa de reboco”, nos quintais das famílias mais abastadas e praças de pequenas comunidades, ao tecnológico Alok, muitas mudanças ocorreram na festa de São João de Irecê, todas elas propondo iguais níveis de satisfação, conforme a geração contemplada.
O historicista Kel Dourado divulgou, na véspera dos festejos deste ano, uma produção editorial que detalha as mudanças ocorridas ao longo do tempo.
E o poder público de Irecê tem desenvolvido importante papel neste processo de ‘mutação’. É ele que contrata as estruturas, as apresentações, serviços de segurança e bem-estar dos turistas e nativos e tem feito com muito cuidado e respeito às raízes identitárias e às evoluções que impõem novos símbolos culturais, permitindo que cada geração se sinta feliz e contemplada de acordo com cada perspectiva geracional e suas identidades.
Irecê já não é mais uma “casa de reboco” e seus festejos já não se resumem ao quintal da família mais estruturada ou ao coreto comunitário. Cresceu, evoluiu e os gestores tem sido bastante criativos para atender às diferentes demandas de satisfação artística e cultural nas diferentes épocas. Há um produto fantástico de tudo isso, resultante de uma iniciativa do artista plástico e produtor das artes cênicas, Solon Barreto, que a serviço da Prefeitura, criou, dirigiu e implantou a Vila Caraíbas. Trata-se de uma estrutura que contempla as tradições, onde a força do São João raiz se fortalece, segundo a força dos seus seguidores. Cremos, inclusive, ser um equipamento para maior valorização da mídia oficial. Mas o equipamento resiste ao tempo. Está lá, atendendo aos amantes do forró pé de serra no coreto, encontros de família, teatro, casamento na roça, danças de quadrilha, réplicas dos casarios antigos, a delegacia, a igrejinha, a vendinha e até o boteco das ‘kengas’.
Tem também o corredor e o trator do forró que levam os foliões da noite, ao amanhecer, para o mercadão das comidas típicas, o concurso de quadrilhas e o festival de gastronomia. Tudo se soma ao esforço de associar e manter vivas as tradições juntas às inovações.
Porém, o que tem maior apelo popular, são as novas tendências contempladas no palco principal Professor Jorge Rodrigues. O forró estilizado, que desde o início dos anos 90, mistura elementos do forró de origem, com outras tendências musicais como as denominadas sertaneja, axé music, lambada e arrocha, foram ganhando terreno. O município acompanhou todas estas ‘evoluções’ e por fim, realizou o sonho de milhares de jovens seduzidos pela tendência dos hits eletrônicos, ditada pela mídia eletrônica.
Mormente a satisfação do público com os shows de Mestrinho, Luanzinho, Wania, Claudinho do Acordeon, Bel Marques, Simone Mendes, João Gomes e tantos outros que passaram pelo palco principal e o “Barracão Zé Bigode”, disparadamente o espetáculo do DJ Alok foi considerado o maior e melhor show dos festejos de São em Irecê este ano, totalmente eletrônico, avançando nesta tendência.
E a “Revoada”, mais uma importante inovação que se consolidou. A atração, criada na gestão do então prefeito Elmo Vaz e mantida na liderança do atual prefeito Murilo Franca, é um ‘case’ de sucesso que marca a despedida dos festejos, reunindo milhares de pessoas que, mesmo exaustas dos diversos dias de festas, lotam a “Cidade do São João”, destinando-as ao caminho de casa, dando uma dimensão extraordinária ao evento, tornando nossos festejos únicos. Não há, n’outro lugar, uma festa como a nossa, a melhor do mundo!