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A triste partida para o degredo em São Paulo

REDATOR by REDATOR
26 de abril de 2022
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 -A labuta da fé, das simpatias e do conhecimento, onde a poesia e a esperança pavimentam o debate entre o mito e a razão… não se combate a seca, aprende-se, a conviver com ela –

CULTURA&REALIDADE, Artigo I Por Arlicélio Paiva*

Muitos nordestinos que moram no sertão têm o hábito de fazer a leitura do ambiente para prever as chuvas, sinônimo de boa safra e fartura à mesa. Eles observam o movimento das nuvens, a força do sopro e a direção dos ventos, o comportamento das plantas e a conduta dos animais – como a revoada de acasalamento de cupins e formigas que detectam redução da pressão atmosférica e o aumento da umidade do ar, indicativos de chuva iminente –, as manchas ao redor da lua e do sol, a cor e a forma do horizonte e, claro, fazem muitas simpatias para saber se vai chover, além de rezarem fervorosamente para o seu santo de devoção.

Dentre as simpatias, tem-se a das pedras de sal, destacada pelo poeta cearense Patativa do Assaré no cordel “A triste partida”, musicado por Luiz Gonzaga. Os versos tratam da aflição do povo nordestino ao perceber que não choveu e, por essa razão, terá que abandonar a sua terra natal. No início do cordel, Patativa demonstra o desespero por constatar que já estava em dezembro e nada de chuva ainda! – “Passou-se setembro / outubro e novembro / estamos em dezembro / meu Deus que é de nós?…”. Na sequência, ele ressalta que o sertanejo perdeu a fé na simpatia que sempre faz com as pedras de sal – “A treze do mês / fez a experiência / perdeu sua crença / nas pedras de sal…”.

Para essa simpatia, o sertanejo coloca seis pedras de sal expostas ao sereno, ao anoitecer da véspera do dia de Santa Luzia. As pedras representam os meses de janeiro a junho. Ele levanta cedo no dia seguinte, dia de Santa Luzia (13 de dezembro), ainda em jejum, para observar o resultado. Aquelas que estiverem molhadas pelo sereno, significa que vai chover nos meses correspondentes. Quanto mais derretida pelo sereno estiver a pedra de sal, mais chuvoso será o mês representado por ela. Pedra seca é sinal de mês ruim de chuva.

Um fato curioso a respeito dessa simpatia foi relatado por Sílvio Romero no livro “A poesia popular no Brasil”, citado por Euclides da Cunha em “Os sertões”. Segundo Romero, o naturalista escocês George Gardner (1812 – 1849), em viagem pelo interior do Ceará em 1839, presenciou o experimento das pedras de sal, feito por um sertanejo que obteve resultado positivo, indicando um ano bom de chuva. Mas, o naturalista, com base em observações meteorológicas, obteve resultado oposto. Para defender o experimento que indicou ser um ano chuvoso, o sertanejo afirmou que ele acreditava na experiência, já que tinha sido comprovada por Santa Luzia. Diante da situação, o naturalista, com um português carregado de sotaque, retrucou – “Non! Non! Luzia mentiu!”.

Como a experiência das pedras de sal no dia de Santa Luzia não deu certo, Patativa do Assaré afirma que o sertanejo deposita suas esperanças em outra simpatia, dessa vez na barra do Natal – “…com outra experiência / de novo se agarra / esperando a barra / do alegre Natal..”.

No amanhecer do dia de Natal, o sertanejo observa o sol nascente para ver se ele vai surgir por trás de uma linha baixa e estreita de nuvens escuras, chamada por ele de “barra”.  Caso o sol nasça no dia de Natal atrás de uma “barra” bem formada, é sinal de que o ano novo será bom de chuva. Mas, no cordel de Patativa do Assaré, a experiência da barra também não funcionou – “…Passou-se o Natal / e a barra não veio / o sol tão vermeio / nasceu muito além / na copa da mata / buzina a cigarra / ninguém vê a barra / pois barra não tem…”. Com o aparecimento do sol escaldante logo cedo no dia de Natal é sinal de que a seca vai se prolongar.

Agora, só resta ao sertanejo apelar para São José, que é o patrono da justiça social, a quem ele pede chuva – “Apela pra março / que é o mês preferido / do santo querido / senhor São José”. Existe uma crença de que se chover no dia de São José, o ano será bom de chuva, garantido uma boa safra e mesa farta. A data comemorativa de São José ocorre em 19 de março, próximo do equinócio de outono no hemisfério Sul (período em que dias e noites têm a mesma duração nos dois hemisférios), quando as temperaturas começam a ficar mais amenas e propiciam a condensação do vapor d´água para formar nuvens com potencial para chuva. Mas, como também não choveu no dia de São José, o sertanejo ficou desesperançoso, conforme escreveu Patativa do Assaré – sem chuva na terra / está tudo sem jeito / lhe foge do peito / o resto da fé”. Daí, não restou nada além da triste partida da terra natal para o degredo em São Paulo.

A região atingida pela seca no Brasil, conhecida como “semiárido”, ocupa uma área de 969.589 km2, incluindo todos os estados do Nordeste, exceto o Maranhão, e a região Norte de Minas Gerais. A seca é um fenômeno que faz parte da natureza dessa região.

No período correspondente ao fim do Império e início da República, a região semiárida nordestina foi assolada por uma severa seca que causou a morte de cerca de 500 mil pessoas, principalmente no Ceará. Nessa época, o então Imperador do Brasil, D. Pedro II, prometeu em vão que “Não restará uma única joia na Coroa, mas nenhum nordestino morrerá de fome”. Como se pode perceber, as falsas e miraculosas promessas para “salvar” o Nordeste seco, são antigas. Há aqueles que dizem que vão acabar com a seca. Essa afirmação é tão estúpida quanto garantir que vai transformar o Deserto de Saara em uma região agricolamente produtiva. O sertão nordestino necessita de políticas públicas efetivas para a digna convivência com a seca, sobretudo aquelas que estimulam o plantio de cultivos adaptados às condições de solo e de clima, e que utilizam técnicas para aperfeiçoar a captação e o armazenamento das águas das chuvas. Em boa parte dos anos, o problema da região semiárida não é a falta de chuva, mas a má distribuição delas, pois a precipitação ocorre em um curto período de tempo, ficando vários meses sem cair uma única gota d´água.

As simpatias feitas pelos sertanejos, na desesperada tentativa para adivinhar a chuva, fazem parte das crenças e das crendices nordestinas. São manifestações folclóricas populares que, em algumas situações, podem dar certo. João do Vale e José Cândido, compositores da música “Ouricuri”, também destacaram a sabedoria popular do sertanejo. Segundo eles – “Catingueira fulôro lá no sertão / Vai cair chuva granel…”. Acreditando na capacidade preditiva do homem do sertão, eles ressaltaram – “Lá no sertão, quase ninguém tem estudo / Um ou outro que lá aprendeu ler / Mas tem homem capaz de fazer tudo doutor / E antecipa o que vai acontecer”. E finalizaram afirmando – “…são segredos que o sertanejo sabe / E não teve o prazer de aprender ler”.

*Arlicélio Paiva é Engenheiro Agrônomo (UFBA), Doutor em Solos (UFV) e Professor do Departamento de Ciências Agrárias e Ambientais da UESC, Ilhéus, Bahia. Insta: @arliceliopaiva

Tags: destaque
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