Desde os primórdios da humanidade, a Lua exerce fascínio sobre os povos. As civilizações antigas utilizavam os ciclos lunares como uma espécie de calendário, registrando as fases da Lua em paredões rochosos e pedaços de ossos. Rituais religiosos eram realizados sob a luz da Lua e diversas lendas foram criadas em função dela.
DA REDAÇÃO I Cultura&Realidade – Artigo/Arlicélio Paiva*
Ao contemplar o céu noturno e se deparar com uma infinidade de estrelas e de galáxias localizadas em distâncias inimagináveis, as pessoas apresentam reações distintas. Algumas se sentem pequenas, quase insignificantes, diante da magnitude que percebem, outras têm temor por acharem que podem estar sendo vigiadas por Deus de algum lugar do céu, e há aquelas que apenas admiram o brilho na escuridão, principalmente do maior e mais luminoso objeto – a Lua.
A Lua é um satélite natural que reflete a luz recebida do Sol e mantém sempre a mesma face voltada para a Terra. O outro lado que não é visto da Terra, ao contrário do que se pensa, também é iluminado. Sua origem é resultante do impacto de um planeta errante com a Terra primitiva, ocorrido há 4,5 bilhões de anos. Como resultado, gerou uma grande quantidade de fragmentos de rochas e poeira que ficaram orbitando a Terra até fundir novamente e formar a Lua. A sua superfície é coberta por rochas e cheia de crateras, em função do impacto de diversos objetos. A distância até a Terra é de 384.400 km e o seu diâmetro é de 3.479 km. Para comparação, o diâmetro da Terra é de 12.756 km. A ausência de atmosfera na Lua faz sua temperatura oscilar entre o calor extremo e o frio extremo, pelo que a temperatura média durante o dia é de 106 °C e durante a noite chega a –183 °C.
Lua e Terra exercem forte influência gravitacional uma sobre a outra e isso é importante, pois a Lua desacelera a rotação da Terra, fazendo com que o dia tenha 24 h; sem ela, o dia na Terra duraria apenas de 6 – 8 h e o ambiente não seria propício a tantas formas de vida. A Terra foi protegida pela Lua dos ventos solares, o que ajudou a manter a atmosfera que deixou o clima moderado e propiciou a existência de vida. A variação da força gravitacional da Lua provoca a formação de marés nos oceanos, criando uma dinâmica nas águas que ajuda no deslocamento dos humanos pelos mares há milhares de anos. Estudos apontam que as fases da Lua interferem na fisiologia animal e vegetal.
Desde os primórdios da humanidade, a Lua exerce fascínio sobre os povos. As civilizações antigas utilizavam os ciclos lunares como uma espécie de calendário, registrando as fases da Lua em paredões rochosos e pedaços de ossos. Rituais religiosos eram realizados sob a luz da Lua e diversas lendas foram criadas em função dela.
O número de privilegiados que viajaram até a Lua é de 24 pessoas e apenas 12 delas caminharam em sua superfície. Apesar de um número reduzido de indivíduos ter pisado literalmente na Lua, no sentido figurado muitos “andam no mundo da lua”. Essa expressão é utilizada para se referir às pessoas distraídas, desatentas, alheias ao que ocorre ao seu redor. Já um indivíduo que fala coisas sem lógica e que vive fora da realidade é chamado de “lunático” ou “aluado”.
Mas, a lua pertence também aos românticos, aos seresteiros e aos poetas. Eles envolvem a Lua nas suas paixões, e nas relações e decepções amorosas. Guilherme Arantes (Nosso Lindo Balão Azul) romantiza uma expressão que é mais utilizada no sentido depreciativo – “Eu vivo sempre no mundo da lua / Tenho alma de artista / Sou um gênio sonhador / E romântico”; Benito Di Paula (Lua Lua) faz confidências das suas relações amorosas – “Lua, lua, lua amiga / Vai dizer a ela / Que eu não quero um novo amor / Pois eu só gosto dela”; Herbert Vianna (La Bella Luna) pede ajuda à lua para sonhar mais uma vez com sua amada – “Oh lua de cosmo no céu estampada / Permita que eu possa adormecer / Quem sabe, de novo nessa madrugada / Ela resolva aparecer / A noite passada / Você veio me ver / A noite passada / Eu sonhei com você”; Paulo Leminski usa a Lua como testemunha das decepções amorosas – “A lua ficou tão triste / com aquela história de amor / que até hoje a lua insiste: / – Amanheça, por favor!”; e a lua faz parte do ufanismo de Catulo da Paixão Cearense e João Pernambuco (Luar do Sertão) ao elegerem o luar mais bonito – “Oh que saudade do luar da minha terra / Lá na serra branquejando folhas secas pelo chão / Este luar cá da cidade tão escuro / Não tem aquela saudade do luar lá do sertão / Não há, ó gente, ó não / Luar como esse do sertão”.
Talvez, a mais romântica de todas as referências à Lua, seja a expressão “lua de mel”, que está relacionada com o período de núpcias, quando a relação do casal está na fase mais encantadora. Esse termo passou a ser utilizado no século V na Europa. Naquela época, os convidados presenteavam os noivos com hidromel que, supostamente, apresentava propriedades afrodisíacas para ajudar na concepção. Os recém-casados bebiam o hidromel no primeiro mês de casamento, medido por um ciclo lunar, daí surgiu o termo “lua de mel”. O primeiro registro dessa expressão ocorreu no século XVIII, quando foi definido pelo Dicionário de Samuel Johnson como “O primeiro mês após o casamento, quando não há nada além de ternura e prazer”. Para finalizar, fica a mensagem para os amantes da Lua, escrita pelo cantor espanhol Joaquín Sabina em sua música “Noches de Boda” – “Que todas as noites sejam noites de núpcias / Que todas as luas sejam luas de mel”.
*Arlicélio Paiva é Engenheiro Agrônomo (UFBA), Doutor em Solos (UFV) e Professor do Departamento de Ciências Agrárias e Ambientais da UESC, Ilhéus, Bahia. Insta: @arliceliopaiva