– Ratificando os resultados das urnas, com todos os pareceres de órgãos de controle, inclusive de organizações internacional e até mesmo das Forças Armadas, favoráveis à lisura do processo eleitoral brasileiro, foram diplomados, na tarde desta segunda-feira, 12, Lula e Alkmin, presidente e vice-presidente da República, respectivamente. Vitória da democracia! –
DA REDAÇÃO I Cultura&Realidade
Com forte esquema de segurança no entorno da sede do Tribunal Superior Eleitoral, em Brasília (DF), o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o vice, Geraldo Alckmin (PSB), receberam os diplomas que certificam as suas respectivas eleições, pondo um fim ao processo eleitoral presidencial, que teve votações em dois turnos, dia 2 de outubro o primeiro e dia 30 do mesmo mês, o segundo.
Aliados da chapa majoritária receberam os eleitos com entusiasmo e cantos de campanha. Logo na chegada, as boas-vindas com aplausos e gritos de “boa tarde, presidente Lula” — uma alusão ao grito que faziam na vigília, quando o presidente se encontrava preso em Curitiba.
Na sequência, foi entoado o Hino Nacional e os diplomas foram entregues. Lula recebeu o documento das mãos do presidente do TSE, ministro Alexandre de Moraes, e ao som de aliados cantando “olê, olê, olê, olá, Lulá, Lulá”.
DIPLOMA DA DEMOCRACIA
Em seu discurso, o presidente eleito agradeceu ao apoio recebido de seus aliados e apoiadores. “Esse diploma que recebi não é um diploma de Lula presidente. É um diploma de uma parcela significativa do povo que reconquistou o direito de viver em democracia nesse país. Vocês ganharam esse diploma”, disse Lula. O presidente eleito se emocionou ao relembrar o preconceito vivido por não possuir diploma e, mesmo assim, ter sido eleito presidente do Brasil pela terceira vez.
“Quem passa pelo que eu passei, estar aqui agora é a certeza de Deus existe”, disse. “Eu sei o quanto custou ao povo brasileiro essa espera para reconquistar a democracia no país”, completou.
Sem resistir às lágrimas, ao falar do preconceito dos diplomas, ele também falou do compromisso, com o companheiro de chapa Geraldo Alkmin, de lutar pela soberania do País, pelo resgaste da dignidade humana, pelo desenvolvimento econômico e inclusão social.
ATO DA DIPLOMAÇÃO
O protocolo da diplomação acontece desde 1946 e marca o fim do processo eleitoral. A cerimônia organizada pela Justiça Eleitoral, prevista no Código Eleitoral, atesta que os candidatos foram efetivamente eleitos pelo povo nas eleições gerais.
Lula e Alckmin receberam documentos chamados “diplomas”, assinados pelo presidente do TSE, Alexandre de Moraes. Assim, estarão habilitados para exercerem os mandatos, apesar de terem que aguardar serem empossados em 1º de janeiro de 2023. A diplomação é uma exigência legal para que a posse ocorra.
O prazo limite para a Corte atestar oficialmente a vitória do candidato eleito é dia 19, segundo o cronograma da Justiça Eleitoral. No entanto, neste ano, foi antecipada, ocorrendo nesta segunda-feira, no Plenário do TSE. A antecipação ocorreu pelo receio da equipe de Lula, e também dos tribunais superiores, de que houvesse tumulto causado por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) durante a cerimônia.
LULA: ÍNTEGRA DO DISCURSO DA DIPLOMAÇÃO
“Em primeiro lugar, quero agradecer ao povo brasileiro, pela honra de presidir pela terceira vez o Brasil. Na minha primeira diplomação, em 2002, lembrei da ousadia do povo brasileiro em conceder – para alguém tantas vezes questionado por não ter diploma universitário – o diploma de presidente da República.
Reafirmo hoje que farei todos os esforços para, juntamente com meu vice Geraldo Alckmin, cumprir o compromisso que assumi não apenas durante a campanha, mas ao longo de toda uma vida: fazer do Brasil um país mais desenvolvido e mais justo, com a garantia de dignidade e qualidade de vida para todos os brasileiros, sobretudo os mais necessitados.
Felizmente, não faltou quem a defendesse neste momento tão grave da nossa história.
Além da sabedoria do povo brasileiro, que escolheu o amor em vez do ódio, a verdade em vez da mentira e a democracia em vez do arbítrio, quero destacar a coragem do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal Superior Eleitoral, que enfrentaram toda sorte de ofensas, ameaças e agressões para fazer valer a soberania do voto popular.
Cumprimento cada ministro e cada ministra do STF e do TSE pela firmeza na defesa da democracia e da lisura do processo eleitoral nesses tempos tão difíceis. A história há de reconhecer sua coerência e fidelidade à Constituição. Essa não foi uma eleição entre candidatos de partidos políticos com programas distintos. Foi a disputa entre duas visões de mundo e de governo. De um lado, o projeto de reconstrução do país, com ampla participação popular. De outro lado, um projeto de destruição do país ancorado no poder econômico e numa indústria de mentiras e calúnias jamais vista ao longo de nossa história.
Não foram poucas as tentativas de sufocar a voz do povo.
Os inimigos da democracia lançaram dúvidas sobre as urnas eletrônicas, cuja confiabilidade é reconhecida em todo o mundo. Ameaçaram as instituições. Criaram obstáculos de última hora para que eleitores fossem impedidos de chegar a seus locais de votação. Tentaram comprar o voto dos eleitores, com falsas promessas e dinheiro farto, desviado do orçamento público.
Intimidaram os mais vulneráveis com ameaças de suspensão de benefícios, e os trabalhadores com o risco de demissão sumária, caso contrariassem os interesses de seus empregadores. Quando se esperava um debate político democrático, a Nação foi envenenada com mentiras produzidas no submundo das redes sociais. Eles semearam a mentira e o ódio, e o país colheu uma violência política que só se viu nas páginas mais tristes da nossa história.
E no entanto, a democracia venceu.
Nestas semanas em que o Gabinete de Transição vem escrutinando a realidade atual do país, tomamos conhecimento do deliberado processo de desmonte das políticas públicas e dos instrumentos de desenvolvimento, levado a cabo por um governo de destruição nacional. Soma-se a este legado perverso, que recai principalmente sobre a população mais necessitada, o ataque sistemático às instituições democráticas. Mas as ameaças à democracia que enfrentamos e ainda haveremos de enfrentar não são características exclusivas de nosso país.
A democracia enfrenta um imenso desafio ao redor do planeta, talvez maior do que no período da Segunda Guerra Mundial.
Na América Latina, na Europa e nos Estados Unidos, os inimigos da democracia se organizam e se movimentam. Usam e abusam dos mecanismos de manipulações e mentiras, disponibilizados por plataformas digitais que atuam de maneira gananciosa e absolutamente irresponsável.
A máquina de ataques à democracia não tem pátria nem fronteiras. O combate, portanto, precisa se dar nas trincheiras da governança global, por meio de tecnologias avançadas e de uma legislação internacional mais dura e eficiente. Que fique bem claro: jamais renunciaremos à defesa intransigente da liberdade de expressão, mas defenderemos até o fim o livre acesso à informação de qualidade, sem mentiras e manipulações que levam ao ódio e à violência política.
Nossa missão é fortalecer a democracia – entre nós, no Brasil, e em nossas relações multilaterais. A importância do Brasil neste cenário global é inegável, e foi por esta razão que os olhos do mundo se voltaram para o nosso processo eleitoral. Precisamos de instituições fortes e representativas. Precisamos de harmonia entre os Poderes, com um eficiente sistema de pesos e contrapesos que iniba aventuras autoritárias. Precisamos de coragem.
Quanto maior a participação popular, maior o entendimento da necessidade de defender a democracia daqueles que se valem dela como atalho para chegar ao poder e instaurar o autoritarismo. A democracia só tem sentido, e será defendida pelo povo, na medida em que promover, de fato, a igualdade de direitos e oportunidades para todos e todas, independentemente de classe social, cor, crença religiosa ou orientação sexual. É com o compromisso de construir um verdadeiro Estado democrático, garantir a normalidade institucional e lutar contra todas as formas de injustiça, que recebo pela terceira vez este diploma de presidente eleito do Brasil – em nome da liberdade, da dignidade e da felicidade do povo brasileiro.
Muito obrigado.”
Fontes: Correio Brasiliense e Portal do TSE