– Enquanto milhões de brasileiros sofrem com a falta de medicamentos nos PSFs, o Ministério da Saúde deixou vencer mais de 3,7 milhões de itens, que serão incinerados –
DA REDAÇÃO I Cultura&Realidade
O jornal Folha de São Paulo trouxe em suas páginas, na manhã desta segunda-feira, 6, uma reportagem de Constança Rezende, Raquel Lopes e Mateus Vargas, apontando a existência de um cemitério gerenciado pelo Ministério da Saúde, para “sepultamento” de medicamentos, vacinas e insumos diversos.
O lote a ser descartado, de produtos que a área de saúde do governo deixou vencer recentemente, conta com 3,7 milhões de itens, em montante financeiro estimado em R$ 240 milhões. São dois prejuízos graves. Além do financeiro, o pior de todos: deixou de chegar a postos de saúde de todo o País e poderiam estar diminuindo a dor e cuidando do tratamento de milhões de pessoas.
De acordo com a reportagem, o “cemitério de insumos” do SUS está localizado em Guarulhos, na grande São Paulo, no centro de distribuição logística do Ministério da Saúde.
Apesar do sigilo com que a operação está sendo tratada, para a qual o ministério usa documentos de 2018 para negar o acesso aos dados, sobre os produtos armazenados ou vencidos, conduta inclusive já condenada pela CGU – Controladoria Geral da União, a reportagem teve acesso a tabelas com dados sobre os itens, números de lotes, data de validade e valor pago pelo governo. A lista de produtos vencidos inclui, por exemplo, 820 mil canetas de insulinas, suficientes para 235 mil pacientes com diabetes durante um mês. Somente aí, já perderam, além da assistência a um quarto de milhão de pessoas, R$ 10 milhões.
O governo Bolsonaro também deixou perder 12 milhões de vacinas para gripe, BCG, hepatite B (só esta são quase 6 milhões de doses), varicela, entre outras doenças. Só aí são mais R$ 50 milhões que serão incinerados, no momento em que despencam as taxas de cobertura de vacina no Brasil.
Os medicamentos deveriam ter sido destinados a pacientes com hepatite C, câncer, Parkinson, Alzheimer, tuberculose, doenças raras, esquizofrenia, artrite reumatoide, transplantados, problemas renais e diversas outras situações crônicas de saúde.
O Ministério da Saúde também guarda cerca de R$ 345 mil em produtos dos programas de DST/Aids, principalmente testes de diagnósticos, além de R$ 620 mil em insumo para prevenção da malária.
Dados internos do Governo mostram que devem ser incinerados mais de R$ 32 milhões em medicamentos comprados por determinação da justiça. A maior parte desses fármacos é de alto custo e para tratamento de pacientes com doenças raras, uma bandeira do governo. Ao lado da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, o ministro Marcelo Queiroga (saúde) lançou no último dia 31 a “Rarinha”, nova mascote do SUS.
O vice-presidente do Instituto Vidas Raras, Amira Awada afirma que há grave desabastecimento e estima que mais de mil pessoas aguardam por remédios.
A entidade calcula que 15 milhões de pessoas vivem com doenças raras no Brasil. “Eu nunca vi uma situação tão difícil em 12 anos. Não conseguimos nem falar com eles (representantes do ministério)”.
Fonte: Folha de São Paulo, veja matéria completa no site da Folha.