– O PL contratou consultoria que apontou inconsistência de identidades de urnas, cujas identidades podem ser confirmadas por outros meios. Forçando narrativa golpista, o relatório do partido não apresentou provas de prejuízo aos resultados já reconhecidos e a ação carece de base técnica. Valdemar disse ao STF e ao TSE, que a sua ação ocorria sob pressão de Jair Bolsonaro –
DA REDAÇÃO I Cultura&Realidade
O presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a despachar no Palácio do Planalto nesta quarta-fgeira, 23, há, exatos, dezenove dias depois da derrota para o Presidente Eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Um dia depois do PL anunciar um relatório questionando 279 mil urnas eletrônicas, por inconsistência de identificação, requerendo a anulação dos resultados nelas contidos.
Pediu a anulação referente apenas aos resultados do segundo turno, em que o Presidente Bolsonaro foi derrotado. Os resultados do primeiro turno, das mesmas urnas, com os mesmos “problemas”, em que o próximo parlamento e governadores favoráveis ao bolsonarismo foram eleitos, não foram questionados no relatório.
O presidente do TSE – Tribunal Superior Eleitoral, Alexandre Moraes, admitiu acolher o relatório, para análise, a partir do momento que constar, na ação, os relatos envolvendo os dois turnos da eleição e deu ao partido 24h para apresentar o relatório geral, sob pena de arquivamento do procedimento.
SEM CONSISTÊNCIA TÉCNICA
O professor da Universidade de São Paulo (USP), Marcos Simplício, disse que a iniciativa golpista do PL não tem base técnica. “É insustentável”, afirmou ele, durante entrevista ao portal CartaCapital. Para o pesquisador do Departamento de Engenharia de Computação e Sistemas Digitais da Escola Politécnica da USP, “o pedido do PL não tem sentido do ponto de vista técnico”.
Em resumo, a legenda afirma ter contratado um estudo que apontou possíveis irregularidades em modelos de urnas anteriores a 2020. O argumento central é de que os logs das urnas teriam apresentado um “número inválido” em uma das colunas da tabela produzida pelo Instituto Voto Legal, o que seria “um indício muito forte de falha da urna, porque é impossível associar o registro de cada atividade ao equipamento físico”.
Simplício explicou que o log é um dos identificadores do processo, mas não o único ou o mais importante. Trata-se de algo semelhante a um diário de bordo: ele registra o que acontece na urna, e cada linha teria o seu identificador. Nesse arquivo específico de log, não há o identificador das urnas anteriores a 2020.
“A conclusão deles é que não seria possível saber se aquele log veio de fato da urna, o que está errado. Esse não é o único identificador. Do próprio log você consegue extrair outros dois identificadores: a zona (seção) e o local de votação. E há outro código, chamado de código de correspondência da urna, que também é único por urna”, disse o professor.
“A principal delas não é nenhum dado que está dentro do próprio log, é a assinatura digital feita pela urna. Essa, sim, é a prova de que aquele documento foi gerado pela urna. Se ele está assinado digitalmente por aquela urna, só aquela urna conseguiria gerar aquele documento.”
Especialistas da USP – inclusive Marcos Simplício – tentaram, no âmbito de testes com as urnas, gerar documentos falsos nos equipamentos, mas não conseguiram. Justamente porque a assinatura digital é o que de fato garante a autenticidade de um log.
Na ação levada ao TSE, o PL não questiona os dados do primeiro turno, que deram ao partido a maior bancada na Câmara dos Deputados, com 99 eleitos. Também não coloca em xeque resultados significativos em disputas estaduais, como em São Paulo, onde Tarcísio de Freitas (Republicanos) – apoiado pela sigla bolsonarista – foi eleito governador.
O professor afirmou não haver qualquer justificativa técnica para a legenda alegar erros apenas no segundo turno da eleição presidencial. “Vamos supor que haja um erro grave – não há, mas vamos supor, pelo argumento. O erro aconteceu no primeiro e no segundo turnos e para todas as instâncias: presidente, deputado, você vota tudo junto. Então, tecnicamente não tem nenhum motivo.”
Minutos depois de o PL protocolar sua representação no TSE, o presidente da Corte, Alexandre de Moraes, emitiu um despacho no qual afirma que “as urnas eletrônicas apontadas na petição inicial foram utilizadas tanto no primeiro turno, quanto no segundo turno das eleições de 2022”.
“Assim”, prosseguiu o magistrado, “sob pena de indeferimento da inicial, deve a autora aditar a petição inicial para que o pedido abranja ambos os turnos das eleições, no prazo de 24 (vinte e quatro) horas”.
VALDEMAR SABE
Antes de apresentar o relatório e após ter afirmado publicamente que contestaria o resultado das urnas, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, procurou nos bastidores ministros do STF e do TSE para dizer que acredita na segurança do sistema eleitoral e que só está tomando tal iniciativa por que o presidente Jair Bolsonaro (PL) exige. A informação é da colunista Malu Gaspar, do jornal “O Globo”.
Valdemar teria dito a esses magistrados, em conversas que visavam a produzir uma espécie de blindagem contra eventuais represálias dos dois tribunais, que ele está sob forte pressão do presidente da República.
Considerando todos os aspectos narrados, não é difícil prever que a ação é natimorta. Morreu no colo do autor, Valdemar da Costa Neto.
Fontes: CartaCapital, O Globo e Bahia Notícias.