– A votação da PEC dos Precatórios em primeiro turno azedou a aliança política entre o PT (de Wagner/Rui), o PP (João Leão) e o PSD (Otto Alencar). Rui chama deputados aliados de “traíras” e Otto reage. Lógico que ACM Neto está de camarote, assistindo, rindo e aguardando o desfecho –
DA REDAÇÃO I Cultura&Realidade
A votação da PEC dos Precatórios não afetou apenas a agenda politica do presidenciável Ciro Gomes, que anunciou a suspensão da pré-campanha enquanto o PDT não rever a posição da maioria da sua bancada. Dos 24 deputados pedetistas, 15 votaram a favor da PEC.
Mas o clima azedou mesmo foi na Bahia, onde Cacá Leão, filho do atual vice-governador João Leão, líder do PP na Câmara e aliado do PT, desde quando Wagner era governador, curtiu postagem do deputado Ciro Nogueira, chefe da Casa Civil da Presidência da República, batendo no PT, por ter votado contra a PEC. “Nunca pensei que chegaria o dia em que veria o PT votar contra um auxílio aos 20 milhões de brasileiros vítimas da fome. Vergonha alheia”.
RUI COSTA: “CHEGA DE TRAÍRAS”
Como se não bastasse, na manhã desta quinta-feira, 4, o governador Rui Costa, durante discurso em Jaguarari, no Norte baiano, disse que é preciso separar o joio do trigo: “Eu vou rodar, no ano que vem, pedindo voto para você, Joseph [Bandeira, ex-prefeito de Juazeiro], para Josias [Gomes], para todo mundo que estiver ao lado de Luiz Inácio Lula da Silva. Chega de deputado traíra, chega de gente que maltrata o povo e que vem aqui com conversa mole enrolar o povo. O Brasil não aguenta mais”. Entende-se como traíras, deputados aliados que votam contra ao que interessa ao grupo. Neste caso, constam entre os “traíras”, os deputados federais Cacá Leão (PP) e Otto Alencar Filho.
A rejeição da PEC pode assegurar R$ 10 bilhões do Fundef ao governo baiano em 2022. Embora aprovada em primeiro turno, a proposta pode ser rejeitada no segundo, como prevê o regulamento da Câmara.

Em nota, o PT baiano também desferiu sua mágoa contra os deputados que votaram a favor da PEC dos Precatórios, afirmando que com a aprovação da matéria, “vence a mentira, o calote e a chantagem. Uma noite que marca uma grande derrota para o país e amplia o volume de recursos fisiológicos e do orçamento paralelo, que poderá receber dezenas de bilhões às custas do descumprimento de ordem constitucional dos precatórios já transitados em julgados pelo STF, além dos calotes aos estados. Promessas foram feitas aos estados e representações da educação, mas tem alguém acreditando? Perde o Brasil”. Publicou o PT, com repercussão dada pelos deputados da agremiação.
REAÇÃO DE OTTO FOI IMEDIATA
Não demorou muito para que o Senador Otto Alencar reagisse ao discurso de Rui Costa e do Partido dos Trabalhadores. Ainda na tarde desta quinta, 4, ele avaliou o cenário com os aliados e o seu filho e no início da noite, saiu em defesa do seu partido e dos seus correligionários pessedistas.
O senador que goza de elevada credibilidade nas bases aliadas do governo baiano e entre oposicionistas, foi enfático em dizer que a orientação pelo voto favorável do PSD, partiu de acordo com o governador baiano. Otto salientou que não aceita a pecha de traidor, nem as agressões ao partido nem aos membros da sigla. “O PSD na Bahia só aceita aliança se for respeitado”, disse.
Rui Costa orientou o voto na PEC – “Sou aliado fiel e não aceito agressão ao meu partido, nem a membros do meu partido. Quem sugeriu o parcelamento em três parcelas [dos recursos do Fundef cujo pagamento foi definido em julgamento do Supremo Tribunal Federal] foi o governador Rui Costa. O governador me autorizou a conversar com o presidente [da Câmara dos Deputados] Arthur Lira. Conversei com a bancada, com o presidente Arthur Lira e depois conversei com o governador sobre o assunto. Ontem à noite conversei com o governador e ele não me pediu que orientasse o voto contra”, declarou Otto, em conversa com o site Política Livre.

O senador disse que a única divergência foi sobre o período de pagamento das parcelas, que seria disposto em 2022, 2023 e 2024. Otto disse que explicou ao governador que, por haver uma decisão do STF, não caberia especificar na PEC as datas de pagamento das parcelas. “Ontem, às dez horas [da noite], liguei para o governador e expliquei isso. A negociação partiu da orientação do governador Rui Costa, portanto não aceito e repilo isso [a acusação de ser traidor ou de ser vendido, como diz a nota do PT sobre os deputados que votaram favoráveis à PEC]. Nos coloca como adversários e temos sido aliados fiéis”, disse Otto Alencar. O senador ainda disparou: “O governador me disse que se pagar os R$ 10 bilhões em 2022, não tem nem como gastar”.
“NOTA MENTIROSA”
O senador classificou como “mentirosa” a nota divulgada pelos deputados petistas da Bahia. “Temos tradição de cumprir compromissos, por isso repilo a nota mentirosa dos deputados federais do PT. O PSD tem toda altivez e autonomia de não aceitar. O PSD só tem aliança quando é respeitado”, repetiu Otto Alencar. “Os compromissos que assumi com [o senador Jaques] Wagner, Rui e [o ex-presidente] Lula, eu sempre cumpri”.
Otto rememorou que o partido votou contrariamente à proposta do ICMS, conforme orientação do governador, lembrando que, nessa questão, a posição foi liderada pelo deputado federal Otto Alencar Filho (PSD) – ele foi um dos parlamentares baianos que votaram favoravelmente à aprovação da PEC dos Precatórios. “Fui o único senador do PSD que votou contra o impeachment da presidente Dilma [Rousseff]”, lembrou Otto, para reforçar a lealdade aos petistas. O senador também destacou sua posição durante a CPI da Covid, no Senado, e o fato de ter precisado atravessar, muitas vezes, “corredores poloneses” formados por partidários do bolsonarismo.
É provável que neste momento os bombeiros dos bastidores da política baiana estejam em ação, pois o estrago da postura de nunca reconhecer os apoios e marginalizá-los quando bem entender, tem sido uma prática do PT, historicamente.
No manifesto do Senador do PSD baiano, ficam claras as dicas de possível rompimento, quando diz que a nota do PT “Nos coloca como adversários e temos sido aliados fiéis”, disse, concluindo: “O PSD na Bahia só aceita aliança se for respeitado”.
As agendas das cúpulas de todos os grupos da politica baiana estão alteradas nos próximos dias. Enquanto isso, ACM Neto assiste, ri e aguarda o desfecho.