– Nessa matéria, o atual contexto da Apicultura no Território de Irecê e a história da atividade no mundo –
DA REDAÇÃO I Cultura&Realidade
“Se as abelhas desaparecerem da face da Terra, a humanidade terá apenas mais quatro anos de existência. Sem abelhas não há polinização, não há reprodução da flora, sem flora não há animais, sem animais, não haverá raça humana.” Albert Einstein (1879/1955)
Recentemente o Ministério do Desenvolvimento Regional-MDR, por meio da Codevasf, lançou a “Rota do Mel” na Bahia, envolvendo principalmente as regiões de Ibotirama e Irecê. A inclusão da apicultura do Território de Irecê, como atividade de interesse socioeconômico ocorrer após cerca de 40 anos de iniciada a atividade na região.
Os apicultores e técnicos Abelmon Bastos (em memória) em Presidente Dutra e Jorge Dias, em Central e as apicultoras Jandira Cavalcante de Figueiredo e Martha Maria Mendes Santos, na comunidade de Mocozeiro (Irecê) são apontados/as como os/as percursores/as da cultura do mel como atividade econômica controlada.
Iniciada em meados da década de 80, a produção do mel em regime de manejo planejado tem ganhado notoriedade ao longo dos anos na região, como importante atividade socioeconômica e socioambiental. “Através da produção do mel, temos melhorado a nossa renda e a nossa sensibilidade com a natureza e zelo pelas reservas florestais, nos levando a fazer melhor manejo das terras, das águas e da vegetação local. Sem estes recursos não temos vida e não tem como praticar a apicultura”, diz Ivanildo Firmino da Silva, 59, agricultor familiar e apicultor, da comunidade de Prevenido, no município de América Dourada.
Ivanildo é o articulador institucional dos apicultores do Território de Irecê, ainda de acordo com ele, a apicultura, apesar de não ser a principal atividade econômica dos praticantes da cultura, ela já representa para muitas famílias a segunda maior renda da propriedade.
Atualmente o Território de Irecê tem como principais polos produtores os municípios de Central, América Dourada, Uibaí, Irecê, São Gabriel e Canarana. Mas é crescente nos municípios de Barra do Mendes, Ibipeba e Gentio do Ouro. De acordo com os dados fornecidos por Ivanildo e a Coapti – Cooperativa de Apicultores do Território, em 2020, apesar de ter sido uma subprodução por conta da Pandemia (veja adiante a justificativa) foram comercializadas para outras praças, 32.444 quilos, que somados aos 7.500 quilos de consumo interno, tem-se 40 toneladas de mel. Central contribuiu com 11.900 quilos, Uibaí 5.630 quilos, América Dourada 5.000, Irecê 3014, Canarana 2.500, Mulungu do Morro 900 e Barra do Mendes 300 quilos, dentre outros com menor produção, melhorando a renda de 135 famílias.
A estrutura de beneficiamento consiste em três Casas de Mel, uma em América Dourada, uma Central e outra em Irecê (precisando de reforma). De acordo com a CAR e Codevasf, estão em processo de licitação, as contratações para construção de unidades de beneficiamento em Mulungu do Morro, Uibaí e Irecê que passa a ter duas unidades.
SUBPRODUÇÃO EM 2020
Tanto Ivanildo, quanto Marisa Oliveira da Silva, dirigente da Coapti – Cooperativa dos Apicultores e Apicultoras do Território de Irecê e do SINPRI – Sindicato dos Produtores Rurais da Região de Irecê, os dados relacionados à produção em 2020, não representam a realidade. “Nossos indicadores são bem melhores, a colheita do ano passado foi prejudicada pela Pandemia da Covid-19”, disse Ivanildo.
De acordo com Marisa, “apesar do manejo ser uma atividade sem aglomeração e ao ar livre, o que não expõe os apicultores ao risco de contaminação pelo Coronavirus, faltou insumos. Não conseguimos materiais para as atividades de manejo e acondicionamento do mel”, explicou.
Ivanildo também aponta prejuízos na safra de 2020. Segundo o articulador institucional da apicultura no território, “América Dourada colheu 5.760Kg e poderia ser mais de 20.000Kg. “A produção registrada no ano passado não representa a realidade. Além de se ter muita gente sem cadastro que não temos controle da produção, tivemos um prejuízo que pode variar de 60 a 75%, conforme a realidade de cada município. Aqui em América Dourada colhemos 5.760 quilos e tenho certeza que poderiam ser de 4 a 5 vezes mais. Habitualmente nossa colheita ocorre em março, abril, maio e junho. Este ano, por falta de materiais, fizemos apenas uma colheita, em julho. Entre uma colheita e outra os espaços das colmeias são preenchidos e as abelhas param de produzir” explica o apicultor, informando que que a produção territorial tem potencial para superar as 160 toneladas por ano, apesar dos graves problemas ambientais causados pelo desmatamento.
O MEL NÃO É O PRINCIPAL PRODUTO DA APICULTURA
Como é do conhecimento popular, mel é um alimento doce e natural, produzido pelas abelhas, a partir do néctar que elas coletam das flores e o transformam neste líquido viscoso que conhecemos. A depender da florada e das condições climáticas sua composição pode variar em aspecto, cor e sabor.
Áureo Dourado, que é Técnico em apicultura, apicultor e meliponicultor, esclarece que o mel não é o único produto de uma colmeia. “Temos vários outros produtos para diversos fins e até mais valiosos que o mel. Dentre os produtos de uma colmeia, temos a geleia real, pólen, própolis, cera e a apitoxina . Vale ressaltar que a colheita dos produtos não afetam o cotidiano das abelhas, uma vez que a criação em regime de manejo racional, permite um bom equilíbrio entre o que precisa os enxames e o consumo humano. A apicultura e a meliponicultura se enquadram perfeitamente nos três pilares da sustentabilidade, ecologicamente correta, socialmente justa e economicamente viável.”
Pólen – O pólen tem como papel principal fecundar os óvulos de flores, gerando novas frutas e sementes e devido ao seu potencial energético, é usado pelas abelhas para criar a geleia real e, consequentemente, servir de alimento para a abelha rainha e suas crias. Nós podemos usufruir desta excelente fonte de energia, basta uma colherinha de pólen sobre frutas ou outros alimentos. É importante para combater o estresse e a fadiga.
Própolis – Produzido pelas abelhas, o própolis é uma resina vegetal encontrada em diversas plantas, que protege a colmeia contra parasitas, bactérias e outros agentes contaminantes. Para os humanos, o própolis vai além de proteger contra gripes e dor de garganta, pois ele também age como anti-inflamatório, antibiótico natural, auxilia na imunidade, equilíbrio da microbiota intestinal, controle do colesterol e redução da gordura corporal. Ele pode ser indicado na forma líquida, extraído no álcool ou na água, além da porcentagem da concentração que também é definida pelo nutricionista que o prescreve.
Apitoxina – O tratamento de apiterapia com veneno de abelha, também conhecido por apitoxina, é realizado por um apiterapeuta, com abelhas vivas, que picam propositadamente a pessoa, de forma controlada, liberando o veneno de forma a obter efeitos analgésicos, anti-inflamatórios, estimulantes do sistema imunológico, entre outros. Vários estudos comprovam ainda a eficácia do veneno de abelha no tratamento da artrite reumatoide, no entanto, não é possível garantir a segurança deste procedimento.
Cera – Também produzida pelas abelhas, a cera é fundamental para o desenvolvimento das colmeias e criação dos favos. Nós a utilizamos em medicamentos e cosméticos.
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Fontes: tuasaude.com e mel.com.br