COLUNISTA | Cultura&Realidade, por Diogeano Marcelo de Lima
Qual seria o objetivo maior do cinema? Talvez a maioria acredite que seja entreter a plateia, como um passatempo capaz de divertir os expectadores que pode vir através da infusão de emoções como o riso, o susto, o medo, o choro a dúvida ou a ternura das comédias românticas.
No entanto, o cinema pode trazer objetivos muito além do simples entretenimento como provocar reflexões, questionar valores culturais, sociais e históricos, adentrar no estudo da psicologia de determinado indivíduo, retratar determinado fato histórico ou personalidade humana, tudo isso anexando valor e cultura ao expectador que poderá ter a sua visão de mundo ampliada e em diversas situações provocar uma mudança de comportamento. Sem dúvidas, o cinema proporciona uma verdadeira experiência de sensações cujo êxito dependerá da harmonia entre a proposta do filme assistido com a satisfação buscada pelo expectador.
Se valendo dessas premissas, podemos agora falar do longa “Corra!”, lançado em 2017, dirigido pelo então estreante no cinema o diretor e roteirista Jordan Peele, conhecido apenas pelos esquetes de humor como MADTV na Central Comedy.
O grande diferencial do filme corra não é apenas o roteiro bem amarrado sem pontas soltas ou porque extrai de uma premissa simples um resultado altamente eficaz ao ponto de a trama ser tão verdadeira que o expectador vivencia os mesmos impasses junto com os personagens. O verdadeiro mérito da trama produzida é se aproveitar das enrascadas apresentadas pelo roteiro para gerar várias alfinetadas sociais, pois traz para o cinema de hoje a tônica do terror social, sendo Jordan Peele um legítimo herdeiro de George A. Romero, vanguardista da crítica social através do gênero de terror, só que com uma vertente social ainda mais profunda e atual.
O filme corra apresenta a premissa de ser um filme de terror, mas o grande monstro que apresenta é o racismo, de toda a cadeia de emoções que vem a despertar, o seu foco não é o medo e sim a reflexão. Fazendo uso de situações quase impossíveis apresenta o preconceito e o racismo nos mínimos detalhes do cotidiano de um jovem negro que namora uma moça caucasiana e enfrenta o desafio de conhecer os pais dela, também caucasianos, em especial, na cena em que o casal é abordado por um policial na estrada, o que pode passar desapercebido por quem nunca sofreu nenhum constrangimento por ser de outra cor ou etnia. Claro, o preconceito nos EUA é muito mais exposto que no Brasil que se trata de um preconceito velado, o que o torna mais perigoso. Sem querer dar Spoilers, Corra é um filme que vale assistir para se divertir e refletir sobre a nossa sociedade atual. Recomendo!