– Sabe aquelas pessoas que se despedem da vida terrena, deixando um legado que a faz viva para as atuais e futuras gerações? Assim é Hazel Henderson, a futurista da economia e do ambientalismo, cujos atos em vida, revolucionaram os paradigmas vigentes na economia e influenciará por muito tempo, importantes decisões –
DA REDAÇÃO I Cultura&Realidade, por Rosa Alegria, Para o Prática ESG — São Paulo
Ela costumava dizer que quando morresse passaria a ser virtual. Em 23 de maio, Hazel Henderson, a futurista da economia e do ambientalismo, se virtualizou aos 89 anos. Faleceu em Saint Augustine, na Flórida, onde vivia.
Hazel deixa um legado para as futuras gerações por ter revolucionado os paradigmas vigentes na economia. Seu notável pensamento sistêmico e capacidade incomparável de compreender a realidade econômica sob múltiplas disciplinas, conectando os pontos sensíveis da problemática mundial, fizeram dela uma “acupunturista global”, como alguns passaram a defini-la.
Despertou o interesse de líderes de diversas nações. Trouxe novos olhares não ensinados nas escolas de economia e administração. A ideia da “economia do amor” foi a matriz do que hoje se conhece por economia colaborativa, orientada por valores femininos e propondo a monetização do trabalho das mulheres (correspondente a 50% da riqueza mundial). Mulheres que tecem os fios do desenvolvimento social e que sustentam a economia e cujas atividades não são contabilizadas pelos governos.
Para sensibilizar as empresas na direção da sustentabilidade, lançou Mercado Ético, uma plataforma multimídia, que no Brasil foi liderada por Christina Carvalho Pinto. Também foi quem passou a promover a ética na propaganda com o Prêmio Ethic Mark Award.
Ícone de vários movimentos globais como o Projeto Millennium (do qual era conselheira e patrocinadora), o WorldWatch Institute, o Greenpeace e a Aliança de Cidadãos pelo Ar Limpo, este último criado por ela.
Foi com a Aliança de Cidadãos pelo Ar Limpo que iniciou, em Nova York, seu ativismo ambiental nos anos 60. A fuligem industrial da grande metrópole que afetou a condição respiratória de sua filha, na época uma criança, acionou em Hazel um gatilho questionador sobre uma economia que prejudicava a saúde da população. Uma economia que não trabalhava em favor das pessoas era para ser confrontada. Foi o que ela começou a fazer. Essa experiência pessoal se expandiu numa incansável luta por uma economia social e ambientalmente mais equilibrada.
Os sistemas de ensino não tinham espaço para sua mente. Mesmo sem ter diploma universitário, foi Doutora Honoris Causa de vários centros acadêmicos mundiais.
Entre os futuristas, Hazel sempre foi uma musa, a quem todos prestavam reverência, entre eles, Al Gore e Alvin Toffler. Minha relação com Hazel começou na virada do século (anos 2000-2001), na época do meu mestrado em Estudos do Futuro nos EUA, quando ainda não a conhecia pessoalmente.
São diversos os livros e publicações que ficam como legado: o profético “Politics of the Solar Age” (Política de uma Era Solar) que em 1981 já antecipava a ascensão da energia solar e a insustentabilidade do petróleo, “Paradigms in Progress” traduzido em português como “Transcendendo a Economia”, “Além da Globalização”, “Cidadania Planetária” – um diálogo com o mestre budista japonês Daisaku Ikeda -, entre várias outras obras relevantes.
Periodicamente ficávamos conversando por telefone ou quando era possível, em sua casa na Flórida, às vezes nós duas, às vezes com amigos, sempre regadas de afeto, de mergulhos na piscina de sua casa e com algumas taças de vinho. Suas risadas e suas palavras com sotaque britânico vão ressoar eternamente em mim. Sua presença física já não se faz possível, mas Hazel é agora virtual, assim como o seu amor pelo planeta, que sempre irá nos inspirar e fortalecer na esperança por um mundo melhor.
*Rosa Alegria, Futurista e Diretora do Projeto Millennium no Brasil