Após a paralisação das aulas, professores e estudantes enfrentam desafios diários para manter rotina de estudos.
DA REDAÇÃO | Brasil Escola
A pandemia do novo coronavírus (covid-19) alterou a dinâmica das escolas, que estão tendo que realizar atividades a distância desde meados de março. Essa mudança exigiu que educadores adaptassem sua rotina doméstica à nova forma de trabalho, o que nem sempre é fácil.
Muitas escolas, para evitar que os alunos sejam prejudicados, implementaram plataformas e estratégias de ensino a distância para que todos possam continuar estudando durante o período em que não podem sair de casa.
Entre os meios que estão sendo mais utilizados estão plataformas on-line desenvolvidas pelas próprias escolas ou compradas de empresas especializadas, aulas ao vivo em redes sociais, o Google Classroom, grupos de Whatsapp e alguns outros.
O início
A professora de Ciências e Biologia, Helivania Sardinha, dá aulas para o ensino fundamental e médio em uma escola particular em Goiânia/GO. Ela conta que já utilizou o Whatsapp, o Google Classroom, uma plataforma do seu colégio e também o YouTube para oferecer conteúdo aos alunos, mas revela a dificuldade de lidar com as novas ferramentas.
“Existe a dificuldade em aprender a utilizar novas ferramentas e o fato de muita coisa ser cobrada, em um curto período de tempo. Sobre as novas tecnologias utilizadas, por exemplo, eu posso citar o fato de que muitas pessoas têm facilidade em falar com multidões, mas falar para uma câmera é algo totalmente diferente e desafiador”, conta.
Em São Paulo/SP, o professor de História do Colégio Anglo, Vinicius de Paula, relembra que também não tiveram muito tempo para se preparar para as aulas a distância.
A paralisação não estava prevista, mas a escola de Vinicius utilizava uma plataforma de ensino a distância desde 2018, e que foi aprimorada neste momento para atender o período de pandemia.
Com isso, Vinicius, que também é coordenador no colégio, mantém uma rotina semelhante à de antes do isolamento, mas admite o aumento do trabalho. “Os horários são os mesmos de antes da pandemia. Há mais trabalho porque precisamos preparar aulas em um outro formato, mas cada vez mais nos adequamos melhor ao novo modelo”, contou.
O aumento do fluxo de trabalho também foi comum ao professor de Física, Rafael Victor, de Goiânia/GO, que leciona para estudantes do ensino fundamental, ensino médio e Educação de Jovens e Adultos (EJA), na rede pública e privada.
“O volume de trabalho aumentou bastante depois do regime de aulas a distância. Como eu não estava acostumado com esse tipo de trabalho, tive que aprender a utilizar muitas ferramentas, sem falar que o formato das atividades feitas a distância é bastante diferente das feitas em sala de aula e isso é bastante desafiador”, também frisou Rafael.
Família e desafios
Os professores Rafael e Vinicius, não têm filhos, mas têm as responsabilidades de ajudar em casa com os afazeres domésticos, além de cuidar dos animais de estimação e manter a casa, novo local de trabalho, em ordem.
Helivania é mãe. A professora tem um filho pequeno, com autismo, que também teve suas aulas cessadas e agora passa o tempo todo com a mãe e o pai em casa.
Mesmo dividindo os períodos de trabalho e a atenção e cuidados do filho com o marido, a rotina acaba sendo interrompida algumas vezes para que possa exercer também o papel de mãe.
A professora relata a dificuldade em trabalhar com filhos pequenos em casa, principalmente por eles exigirem, na maioria das vezes, a atenção da mãe. A situação acaba causando a interrupção do trabalho por vários momentos, o que gera um desgaste e cansaço maior.
Outra situação desafiadora para professores e escolas neste momento é a cobrança de alguns pais pela falta de aulas. Alguns chegam a colocar a possibilidade de não fazer o pagamento das mensalidades escolares, alegando que as unidades não estão funcionando.
Além da saúde, a economia também está sendo muito afetada no período da pandemia, e muitas famílias acabam passando por problemas financeiros. No entanto, a professora destaca a tristeza de ver que muitos pais não querem pagar a escola por essa justificativa, além de temer a redução salarial, caso isso ocorra.
Existem Vantagens?
Apesar de todos os desafios enfrentados pelos professores para gerar conteúdo aos alunos, algumas vantagens podem ser destacadas, tais como a proximidade dos professores diante das tecnologias e o aprendizado das mesmas. E para aqueles que residem nos grandes centros urbanos tem a chance de descansarem um pouco mais, visto que não precisam acordar cedo para enfrentar o trânsito a caminho das escolas
E os alunos?
Assim como é complicado para os professores administrarem a rotina de trabalho em casa, os estudantes também encontram seus desafios, principalmente pelas distrações que possuem em casa. Com isso, acaba que muitos não conseguem manter a mesma rotina de estudos, enquanto outros mantêm a mesma dedicação.
“Diante de tudo isso, tenho observado um ponto bastante positivo neste momento, eu sinto que os alunos estão se dedicando mais. Como o professor não está ali ao lado o tempo todo, eles estão lendo mais, ao invés de apenas questionar ao professor, na busca de uma reposta pronta e de maneira rápida”, disse a professora Helivania.
Por outro lado, o professor Rafael, que dá aulas tanto em escolas particulares quanto públicas, demonstra preocupação com o acesso à internet limitado para uma parcela da população. “Acho que a maior desvantagem é que o acesso à internet ainda é limitado para alguns alunos, principalmente de baixa renda”. De acordo com o professor, esses alunos não conseguem acessar o conteúdo ou entrar em contato com tanta frequência quanto os demais.