COLUNISTA | Cultura&Realidade, por Diogeano Marcelo de Lima
Caro leitor, espero que me perdoe pela recorrente indicação de filmes da plataforma de streeming Netflix! Confesso! Sou um defensor das plataformas streeming desde quando me tornei consumidor dos seus serviços em 2017, quando a novidade ainda era recente.
A verdade é que, toda semana a Netflix vem trazendo novidades e, embora nem todas possam ser consideradas obras primorosas, deve-se admitir que são bastantes chamativas pela qualidade do desenvolvimento dos projetos, pelo elenco escalado e pelos temas abordados em seus enredos, o que vem, infelizmente, atrasando a produção de artigos sobre grandes clássicos do cinema, especialmente nesse momento de pandemia, em que os grandes estúdios estão atrasando grandes lançamentos para evitar prejuízos com a maioria dos cinemas fechados.
Por todo esse conjunto, o filme escolhido dessa semana é EU ME IMPORTO, lançamento da plataforma Netflix (19 de fevereiro de 2021), conta com a direção de J. Blakeson, apresentando elementos tanto do gênero comédia quanto suspense e conta a história de Marla Grayson (Rosamund Pike), uma tutora profissional de idosos que por razão de alguma doença, e por não terem parentes próximos, ou familiares aptos a cuidarem de seus interesses, necessitam que o estado designe uma pessoa para cuidar dos seus interesses, especialmente de seus bens.
Marla Grayson (Rosamund Pike) é praticamente uma empresária do ramo, sendo a tutora de dezenas de idosos, onde o seu salário é pago através da venda dos bens dos mesmos, cujo valor é depositado em um fundo, e caso venham a falecer, o valor restante é repassado integralmente para os herdeiros, caso existam.
O negócio de Marla é rentável, até o dia em que ela meche com a velhinha errada, no caso, com a velhinha da pessoa errada, entrando então em cena um dos entes queridos da última vítima Roman Lunyov (Peter Dinklage). Sem querer dar mais detalhes do filme, até porque, não é a intenção desse pequeno artigo dar spoilers, muito pelo contrário, mas chamar a atenção do leitor para produções que valem a pena ser assistidos e dignas de reflexão.
Marla Grayson (Rosamund Pike) é uma personagem fria e calculista, para não dizer odiosa, e não há como, no meio da trama, ao entendermos do que se trata o negócio lucrativo dela, não torcer para que ela leve a pior. No entanto, isso não faz o filme ser menos divertido, embora ele não possua um gênero definido, não é um amontoado de cenas desorganizados e ainda possui um desfecho surpreendente, quando você acha que vai se irritar com o final do filme, o pensamento que vem a nossa cabeça é: “ora, mas quem diria…”.
Mas, o que podemos contextualizar sobre o filme?
Você pode passar as quase duas horas do filme querendo quebrar o pescoço da Marla, ou que o roteiro viajou na maionese ao inventar uma história “louca demais”, pelo fato de uma pessoa se tornar tutora de idosos apenas para lhes tirar o dinheiro.
Mas, olhemos ao nosso redor, qual o papel dos idosos hoje em dia em nossa sociedade? Aqui eu posso revelar um pouco do que aprendi nesses meus anos como advogado previdenciarista, testemunhado e ouvindo “causos”, dos quais este filme me fez relembrar.
Hoje, os idosos estão deixando de ser tratadas como pessoas para serem vistas como meras caixas eletrônicas, onde os próprios filhos ou netos se apropriam do cartão do INSS para se apropriarem dos valores das aposentadorias/pensões enquanto os idosos ficam à míngua, isso quando não são forçados a realizarem empréstimos consignados, cujos valores em nada lhes beneficiarão para em muitas vezes, serem gastos com futilidades ou até para a compra de drogas pelos próprios netos.
A verdade é que, a nossa sociedade está repleta de Marlas Grayson’s talvez até piores, capazes de objetificar e animalizar pessoas vulneráveis e indefesas em razão de idade e de doenças próprias dessa faixearia e esse novo comportamento que se revela nada mais é que o reflexo de uma sociedade decadente que demostrara menosprezo pelas próprias pessoas que as geriram.
O futuro é incerto e tenebroso.
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