COLUNA | Cultura&Realidade, Por Diogeano de Lima
A minha fascinação pelo cinema começou desde muito cedo, no entanto, foi somente após a idade adulta que tive a oportunidade de assistir a um filme em uma sala de cinema e isso aconteceu após entrar na faculdade de Direito, durante uma viagem de férias com alguns colegas para João Pessoa – PB. Foi aí que eu adentrei pela primeira vez em uma sala de cinema no Manaíra Shopping, jamais esquecerei o primeiro filme que eu assisti: DIAMANTES DE SANGUE.
E como não podia deixar de ser, foi uma experiência extraordinária, pois até então, a realidade de um rapaz sertanejo, que morava no interior da Paraíba, em uma cidade pequena, e em uma época onde boas locadoras de VHS/DVD’s, Salas de cinemas e a internet praticamente inexistiam nesse país assim como tantas outras coisas, assistir a um filme recém-lançado nos cinemas era uma realidade restrita as capitais, únicos lugares que possuíam salas de cinema (observe-se que essa realidade não mudou muito assim nos últimos anos).
E como fazíamos para assistir os “lançamentos”? Esperávamos, esperávamos e depois esperávamos mais um pouco até aparecer na tela quente, já que por quase toda a minha vida eu não soube o que era um videocassete (um aparelho usado para “rodar” as fitas VHS para podermos assistir aos filmes e que após terminar de assistir tínhamos que rebobinar senão o dono da locadora ficava com raiva ou aplicava uma multa e que foi aposentado pelo DVD e que por sua vez está prestes a ser aposentado pela INTERNET/NETFLIX/STREAMING).
No entanto, embora aquela minha experiência pessoal tenha sido um descortinar de um mundo novo, a verdade é que, não teria como ter sido uma escolha melhor, DIAMANTE DE SANGUE é um filme surpreendente que revela uma verdade amarga: a dor advinda com a compra de pedras preciosas da África.
A África é um continente construído sobre um paradoxo: a esmagadora maioria de sua população vive à mercê de uma miséria surreal enquanto sob o seu solo escondem-se riquezas inimagináveis, que no entanto, estão sendo frequentemente usadas para financiar conflitos armados, guerras civis entre governos e milícias locais ou entre desafetos tribais enquanto a população que não pediu para participar do jogo de mortes, sangue e destruição paga o preço por simplesmente existir no lugar errado e no momento errado.
É sobre esse contexto que o diretor Edward Zwick constrói a narrativa envolvente com drama e aventura, mas com bastante consistência relevando uma natureza contemplativa no expectador fazendo uso de um elenco de peso (Leonardo DiCaprio, Djimon Hounsou, Jennifer Connelly).
DIAMANTE DE SANGUE, por toda ação e movimentação que carrega durante o filme, mas também pela carga emotiva e intencional de conscientizar o expectador da origem do comércio legal de pedras preciosas faz o thriller merecer o título de “divertimento com consciência” pois chama a atenção para o que a impressa chamou de “diamantes de conflito” haja vista que a origem de cerca de 2/3 dos diamantes comercializados em todo o mundo são provenientes de áreas de conflito.
Parte das pedras preciosas da África são mineradas por milícias, que as vendem para financiar sua indústria da morte, e frequentemente utilizam de mão de obra escrava para baixar os custos e assim poderem comprar mais armamentos e os compradores finais serão as grifes do primeiro mundo.
Lançado no Brasil em 5 de janeiro de 2007, o filme DIAMANTE DE SANGUE recebeu 5 indicações ao OSCAR: Melhor edição, Melhor som, Melhor edição de som, Melhor ator coadjuvante e Melhor ator e uma ao GLOBO DE OURO também na categoria Melhor ator, sendo este uma das várias indicações de Leonardo DiCaprio a melhor ator, e uma das várias excelentes atuações em que não levou a premiação.
Embora seja um filme lançado a mais de 13 anos (2007), DIAMANTE DE SANGUE, é um filme atemporal, com um tema marcante, extremamente bem-feito, que conta com um elenco de peso, nos presenteia com uma das melhores atuações de Leonardo DiCapri, possui uma narrativa movimentada e com certeza, vale a pena ser assistido e reassistida.