– Algumas curiosidades da maior festa popular do mundo. Não se sabe exatamente quando ocorreu o primeiro Carnaval. Há relatos de que tenha acontecido por volta de 5.000 anos atrás para festejar os ciclos da natureza e do universo no Egito e na Grécia. Durante a idade média, o Carnaval era muito popular na Itália –
Cultura&Realidade – ARTIGO I Por Arlicélio Paiva*
A festa mais antiga e mais popular do mundo – o Carnaval – não tem data fixa para acontecer. Apesar de ser uma festa profana, sua data é definida com base em um calendário padronizado pela Igreja Católica, fundamentado pela astronomia. Um verdadeiro sincretismo que envolve religião, ciência, sociedade e cultura.
Tudo começa pela definição do equinócio, que é o período em que os raios solares, ao atingirem a Linha do Equador em um ângulo reto, propiciam a mesma distribuição de luz nos hemisférios Norte e Sul, fazendo com que dias e noites tenham a mesma duração. O equinócio ocorre tão somente duas vezes ao ano (março e setembro). Mas, o que está relacionado ao Carnaval, acontece em 20 ou 21 de março, marcando o início do outono no hemisfério Sul. Depois do equinócio, espera-se chegar a primeira lua cheia e, no domingo seguinte, acontece a Páscoa (ressurreição de Jesus Cristo). A terça-feira de Carnaval intercorre 46 dias (ano regular) ou 47 dias (ano bissexto) antes da Páscoa. Todas as datas eclesiásticas são definidas a partir da Páscoa, com exceção do Natal.
Existem duas vertentes sobre a etimologia da palavra “Carnaval”. Uma delas defende que é originada do latim “canelevare” ou “carnilearia”, que significa “adeus à carne”. A outra proposição é de que seja derivada da expressão italiana “carne levare”, que significa “remover a carne“. De qualquer forma, ambas vertentes referem-se à abstinência de carne, a partir da quarta-feira de cinzas, por um período de 40 dias que é denominado pela Igreja Católica como Quaresma. Portanto, a festa do Carnaval é o prenúncio da Quaresma!
Não se sabe exatamente quando ocorreu o primeiro Carnaval. Há relatos de que tenha acontecido por volta de 5.000 anos atrás para festejar os ciclos da natureza e do universo no Egito e na Grécia. Durante a idade média, o Carnaval era muito popular na Itália. De lá, foi levado para outros países europeus e chegou ao Brasil, trazido pelos exploradores portugueses, com auspícios do catolicismo, na tentativa de dar um sentido cristão a uma festa pagã, como já ocorria na Europa, para que os populares pudessem celebrar e aliviar as tensões acumuladas, de forma não ameaçadora. Nesse sentido, o poeta Affonso Romano de Sant´Anna, afirma que “O Carnaval é basicamente um movimento diluidor da rebeldia”.
Talvez, por conceber o Carnaval como a maior celebração do cristianismo ocidental, D. Hélder Câmara, então arcebispo de Olinda e Recife, Pernambuco, recomendou para os católicos que brincassem o Carnaval. Segundo ele, “Carnaval é a alegria popular. Direi mesmo, uma das raras alegrias que ainda sobram para a minha gente querida. Peca-se muito no Carnaval? Não sei o que pesa mais diante de Deus: se excessos, aqui e ali, cometidos por foliões, ou farisaísmo e falta de caridade por parte de quem se julga melhor e mais santo por não brincar o Carnaval…”.
O Carnaval é celebrado em diversos países do mundo, como na Itália (Veneza), Bolívia (Oruro), Trinidad e Tobago (Ilha de Tobago), Estados Unidos (Mardi Gras em Nova Orleans), Inglaterra (Notting Hill em Londres), Espanha (Santa Cruz de Tenerife), Alemanha (Colônia), dentre outros, cada um com sua peculiaridade cultural. Mas, nenhum deles é o “país do Carnaval”. Esse título é exclusivo do Brasil.
Há sempre uma inevitável necessidade em querer eleger o maior ou o melhor Carnaval do Brasil. O país é rico em gêneros musicais, ritmos e ritos carnavalescos e não se pode medir o grau de satisfação de um folião. A alegria está presente desde as pracinhas dos bairros com os pequenos, mas não menos animados carnavais, até os grandes circuitos tradicionais. Dentre eles, o Carnaval do Rio de Janeiro, que é embalado pelo samba e marchinhas, como a “Cidade Maravilhosa” (André Filho) – “Cidade maravilhosa / Cheia de encantos mil / Cidade maravilhosa / Coração do meu Brasil”. No Recife, a folia é animada pelo frevo, como “Voltei Recife” (Luiz Bandeira) – “Voltei, Recife / Foi a saudade / Que me trouxe pelo braço / Quero ver novamente Vassoura / Na rua abafando / Tomar umas e outras / E cair no passo”. Na Bahia, o axé faz o folião correr atrás do trio, como “We Are Carnaval” (Nizan Guanaes) – “Ah, que bom você chegou / Bem-vindo a Salvador / Coração do Brasil / Vem, você vai conhecer / A cidade de luz e prazer / Correndo atrás do trio“.
“Logo depois da guerra / Na minha terra Bahia / Dois baianos sem compromisso / Descobriram que o cepo maciço / Evitava o fenômeno da microfonia / E assim, com o nome de pau elétrico / Nascia um dia a guitarra na Bahia” (Viva Dodô e Osmar, de Moraes Moreira e Zé Américo) e, também nascia a Fobica, primeiro Trio Elétrico, inventado por Dodô e Osmar em 1950. Um dos anúncios mais esperados para o Carnaval baiano é feito pela música de Gerônimo Santana (Lambada da Delícia) – “Já é Carnaval cidade, acorda pra ver / A chuva passou cidade, e o sol vem aê”. A chegada do trio é anunciada pela composição de Moraes Moreira (O Caminhão da Alegria) – “E o caminhão da alegria já chegou fazendo música como se faz amor / Deixando a mocidade atônita”. Por fim, é só aceitar o convite e cair na folia, pois, segundo Caetano Veloso (Atrás do Trio Elétrico) – “Atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu”.