Cultura&Realidade i ARTIGO I Arlicélio Paiva
A história do futebol é recheada de figuras folclóricas que, além de engraçadas, criam frases memoráreis. Um personagem bastante conhecido é o carioca Neném Prancha, apelido recebido por Antônio Franco de Oliveira (1906 – 1976), em função do tamanho avantajado dos seus pés. Neném Prancha foi roupeiro, técnico e torcedor fanático do glorioso Botafogo de Futebol e Regatas. Em função das suas frases engraçadas, como “Pênalti é uma coisa tão importante que quem deveria bater é o presidente do clube“, “Se concentração ganhasse jogo, o time do presídio era sempre campeão” e “Se macumba ganhasse jogo, o Campeonato Baiano terminava empatado“, ele recebeu do jornalista Armando Nogueira, o título de “O Filósofo do Futebol”. Porém, algumas frases atribuídas a ele, são de autoria de outros futebolistas, como é o caso da expressão “Quem pede tem preferência, quem se desloca recebe”. Essa sentença foi pronunciada pelo pernambucano Gentil Alves Cardoso (1906 –1970), outra figura folclórica do futebol que atuou como treinador de vários times brasileiros.
Para aqueles que não estão familiarizados com as regras, tampouco entendem o palavreado do futebol, a frase significa que durante o jogo, o atleta que pede ao companheiro de equipe para lhe passar a bola, terá preferência para recebê-la. No entanto, o jogador que não fica parado e se desloca, posicionando-se em um espaço do campo onde possa receber a bola livremente, é quem, de fato, recebe a bola.
Cabe uma reflexão sobre essa frase, uma vez que ela se encaixa em vários contextos da vida. As pessoas que se “deslocam para receber a bola” nas mais diversas situações, são as que têm maior possibilidade de alcançarem aquilo que almejam.
Na pós-graduação, quando os orientadores solicitam aos seus orientados para fazerem uma análise da sua tese com base em um determinado método científico, os pós-graduandos que “pedem a bola”, quando encontram uma dificuldade, desistem da análise e dizem que não conseguiram. Já os pós-graduandos que se “deslocam para receber a bola”, buscam outros métodos e apresentam a análise pronta. Eles têm motivação, aceitam os desafios e aproveitam as oportunidades para aprenderem algo novo.
Assim também ocorre nas atividades profissionais. Os funcionários que se “deslocam para receber a bola”, são solícitos, estão sempre desempenhando suas funções com competência e zelo, e demonstram interesse em ajudar e atender as pessoas. Eles criam oportunidades que, muitas vezes, são transformadas em uma realidade bem melhor para eles. Já os funcionários que “pedem a bola”, ficam parados, esperando que alguém lhes diga o que fazer. Eles não têm atitude e, muitas vezes, são apáticos e não têm interesse em aprender algo novo; são pessoas que ficam prostradas, se submetem aos mandos e não costumam ter destaque em suas carreiras profissionais.
Independente do que se chama de “sucesso”, a determinação e a força de vontade são fundamentais para atingir os objetivos traçados, com também as metas a serem cumpridas em longo prazo. As pessoas que se “deslocam para receber a bola” são mais motivadas e estabelecem prioridades. Dessa maneira, terão maiores oportunidades na vida para atingirem ao que elas consideram como “sucesso”. Por outro lado, pessoas que “pedem a bola”, costumam ficar estáticas, esperando as oportunidades chegarem até elas. Esses indivíduos sentem-se desmotivados e não têm determinação para estabelecer objetivos e nem força de vontade para galgar obstáculos. Portanto, a possibilidade é que essas pessoas ocupem posições preteridas por aquelas que se “deslocam para receber a bola”.
Pessoas que se “deslocam para receber a bola” são altruístas, se importam com o bem-estar dos outros indivíduos e estão sempre pensando positivo. Essas pessoas costumam vibrar e agradecer até mesmo pelas pequenas conquistas.
Por fim, uma frase de Neném Prancha serve para destacar como a determinação é importante para o “sucesso” na vida – “Jogador de futebol tem que ir na bola com a mesma disposição com que vai num prato de comida: Com fome, para estraçalhar“.